docentes
Conheça nossa equipeLinha 1
Linguagens, arte, pensamento
Fernando Ferreira de Loanda: Geração de 45, Aquém e para Além Dela
Saiba mais: https://www.albertopucheu.com.br/
Reencantamento do mundo na expressão poética e musical: da Belle Époque à contemporaneidade - CNPq
Resumo: A conclamação de pensadores subalternos por um reencantamento do mundo vindo de cosmovisões oprimidas é um dos fenômenos culturais e ideológicos mais significativos dos últimos anos. O projeto pretende estudar o anseio de poéticas literárias pelo reencantamento do mundo contrário à modernização desencantadora da mentalidade tecnocrática. O foco da pesquisa será o movimento simbolista brasileiro e suas derivações modernistas, surrealistas, contraculturais e contemporâneas na literatura e na música pop. A busca artística por reencantamento foi feita de diferentes modos, seja pela criação poética de uma mitologia própria, seja pela secularização da mística do judaísmo, cristianismo e orientalismos, seja pelo interesse por cosmovisões africanas, ameríndias e afro-brasileiras, de matriz xamânica. Atualmente, vê-se que tentativas nesse sentido são constantes e ostensivas; cabe à teoria e crítica literárias examinar o fenômeno com instrumental teórico adequado, mapear seu processo histórico e produzir a análise imanente de casos emblemáticos.
O idioma Cixous, escrever, sonhar, teorizar, em mais de uma língua
Resumo: O Projeto porpõe-se a deslocar a ênfase da leitura das obras ditas ficcionais de Hélène Cixous dos anos 2000 para a leitura dos modos extravagantes de teorizar dos ensaios da década de 1970, mas não para segregá-los, e sim para mostrar a insistência do mais de uma língua no gesto de desconstrução dos modos unívocos de traduzir, criticar, teorizar. A pergunta norteadora pode ser feita desta maneira: como se dão as relações entre os objetos-literários-não-identificados e os objetos-teóricos-não-identificados? Tanto os literários, quanto os teóricos, insistem em mais de uma língua, o que é insistir na língua dos sonhos – da condensação, do deslocamento, das palavras-valise, da parataxe. A liberdade formal com que Cixous, a cada vez, reinventa as palavras, as frases, as sonoridades, tornando Freud, Derrida e Proust personagens e linhas estruturantes de sua escrita, é problema que norteia este Projeto. Em um livro incontornável, Mairéad Hanrahan nos apresenta noções como mais que ficção, semi-ficção, desconstrução elementar, que lemos como modos de guardar a alteridade. Essas noções seguem o rastro dos operadores de leitura inventados pela própria escrita de Cixous em tradução para o português do Brasil, como: secrexcitação, vooroubo, mais que eu, terceiro corpo, amor de lobo. Com esses operadores, as escritas da década de 70 serão relidas, não em si, mas sempre em relação ao outro texto, para acompanhar as transformações da língua materna em literatura, em tradução, em leitura do inconsciente, em desconstrução.
Literatura e epidemias
Resumo: Este projeto mapeia e estuda, a partir, das relações intertextuais, como a literatura (mormente a ocidental) de várias épocas representa o fenômeno epidêmico desde a Ilíada: os tópoi, a diluição das fronteiras entre o público e privado, a feição diegética e ecfrástica das pestes nos textos, causas atribuídas e seu papel no encadeamento narrativo, além de sua relação com os mitos, tema, que vem sendo abordado por Girard Reine (1974), Christine Smith (1996) e Artur Costrino (2023).
Linguagens e realidades (CNPq)
Saiba mais: http://www.joaocamillopenna.wordpress.com
Políticas do cuidado e a poesia latino-americana (1920-2022)
Situação: Em andamento; Natureza: Pesquisa.
Alunos envolvidos: Graduação: (4) / Mestrado acadêmico: (3) / Doutorado: (2) .
Integrantes: Luciana María di Leone – Coordenador / mabel boechat – Integrante / Yndyara Meira – Integrante / Manuella Lopes Villas – Integrante / Viviane Botton – Integrante / giulia benincasa – Integrante / evelyn rodrigues – Integrante / Marcela Menezes – Integrante.
Respirar, despertar, traduzir: entre vozes, entre frases, entre línguas
Resumo: A proposta se centra no modo como certa produção contemporânea de língua francesa performa o sentido de sua prática em um mundo cujas fronteiras entre corpos e línguas não cessam de se borrar, fazendo com que se encontrem e se enderecem uns aos outros, estabelecendo zonas comuns, mais e menos (in)voluntárias, de partilha de ar. Nesse sentido, interessam-me as relações entre experiência, corpo e linguagem articuladas sob a perspectiva da tensão entre identidade, alteridade e comunidade, envolvendo também o pensamento e a prática da tradução.
Pretendo investigar o modo próprio de certos autores de fazerem face à asfixia a que nos expõe cada vez mais aquilo a que Marielle Macé se referiu como “estados apodrecidos de fala”, sublinhando a necessidade de pensar esta última como “um meio partilhado e vulnerável”, uma “exalação que pode tornar o ar respirável”. Sem esquecer que “essa fala de respiração exige, do outro lado da linha, a saúde de uma escuta” – um despertar. Quero, pois, explorar a dimensão relacional da literatura contemporânea, que não se efetua sem produzir sobre a língua a “sombra de outra língua”, como diz Valère Novarina ao referir-se, em reflexão sobre sua experiência entre línguas, à “memória das palavras”, esses “animais fonéticos traçados em nós” a partir dos quais nosso corpo constitui a “fronteira respiratória” que lhe permite abrir-se para o mundo e traduzi-lo em ritmos e frases. Que exigirão, por sua vez, entre línguas, tradução.
Nesse contexto, quero privilegiar poéticas que performem a presença do corpo e a materialidade da palavra, solicitando a leitura e a tradução como partilha crítica, política e poética de um mundo. Proponho ainda a ampliação da pesquisa a partir de dois eixos: um diálogo com certa poesia brasileira, numa perspectiva comparada, e a exploração de outros gêneros, com autores como Valère Novarina (teatro) e Hélène Cixous (romance), eles próprios transgressores de gêneros, cuja obra é explicitamente marcada pela vocalidade.
Linha 2
Literatura, Cultura e Sociedade
Estratégias interdisciplinares: cultura brasileira e contextos transnacionais
Resumo: O objetivo geral do projeto é ampliar a compreensão da cultura brasileira do século XIX ao XXI tanto pela investigação de sua inserção em contextos transnacionais quanto pela análise das formas como contextos internacionais são assimilados internamente. Essa perspectiva possibilita uma compreensão das literaturas e de outras formas artísticas em um âmbito global
Cotidiano e Trabalho na Prosa de Ficção Brasileira Recente
Resumo: Considerando o debate teórico sobre a inscrição da vida cotidiana na literatura, assim como estudos em outras áreas de conhecimento em torno tanto desta categoria quanto de transformações em curso no mundo do trabalho, o projeto discute a prosa de ficção brasileira desde a virada para os anos 2000, enfocando narrativas nas quais o trabalho desempenhe papel relevante na apresentação do cotidiano contemporâneo.
Autoria e autoridade nas narrativas de Maria Graham sobre o Brasil e o Chile
A vocação da utopia: ficção política e debate público
Resumo: Este projeto investiga a relação entre ‘ficção’ e ‘realidade’ no imaginário político, a partir do caráter específico da utopia moderna, seja em relação às utopias do futuro, seja em relação às distopias atuais. Desde o final do século XVIII, a utopia enlaça-se às projeções teleológicas de futuro. Nossa pesquisa mostra como, em sua origem, a utopia não foi concebida nem como a antecipação de um futuro, definido pelo “sentido” da história, nem como ideal normativo, voltado para orientar ações coletivas. Ficção descarada e espelho crítico da realidade, a vocação da utopia era a polêmica.
Desde a Utopia de Morus (1516), as utopias são ficções de uma possibilidade, daquilo que poderia, não do que deveria ser; envoltas na retórica da dúvida e do paradoxo, são talhadas para o diálogo e o debate público. Por um lado, o exercício utópico supõe a renúncia à aplicabilidade imediata da ordem imaginada na esfera da ação; por outro, amparado na tecnologia do livro e no âmbito do público, serve à discussão sobre o bem comum no presente. O pressuposto da utopia moderna é a desnaturalização do poder, que perde sua fundamentação cósmica ou divina e passa a ser historicamente contingente. A contingência do poder está no cerne da vocação da utopia.
A nossa hipótese é que o exercício utópico exige a afirmação da ficção como uma instância que se contrapõe à contingência do real. Longe de ser um substituto do real, a ficção utópica supõe o real para contrapor-se a ele e revelar, através da sua reconfiguração, o seu caráter contingente e mutável. Partindo de três textos paradigmáticos – a Utopia de Morus, os Ensaios de Montaigne e a Tempestade de Shakespeare – exploramos como a fronteira entre facticidade histórica e a ficcionalidade define o solo comum sobre o qual se trava o debate utópico. Nossa genealogia da ficção utópica espera oferecer um contraponto valioso a um presente dominado pela “pós-verdade” e pela indiferença extraordinária à discriminação entre verdade factual e opinião.
Palavras-chave: utopia, ficção política, esfera pública, livro impresso
Contribuições do Formalismo Russo para a teoria e crítica literárias
As formas da dívida
Resumo: O objetivo geral do projeto é investigar as formas da dívida na dramaturgia e no teatro. Para tanto, se faz necessário pensar a constituição de um sistema de vínculos econômicos ou simbólicos a partir de dois grandes operadores da dívida, a saber, o dinheiro e o sacrifício. Para fins do estudo, portanto, a dívida é pensada como uma relação, algo que “acontece no meio?, segundo o antropólogo David Graeber. O sacrifício, ato que envolve a oblação de algo ou alguém, será tomado como uma forma da dívida que assombra de Ifigênia (Ifigênia em Áulis, Eurípides) a Nora (Casa de Bonecas, Ibsen). e o dinheiro, o outro elemento da relação que a dívida propõe e pressupõe, será tomado como uma ?realidade e ficção, substância e função?, conforme Albert Rigaudière. Para tanto, a hipótese de leitura, de cunho interdisciplinar, se interessa pelas complexas relações da forma-sujeito moderno e contemporâneo, como a mercadoria e o dinheiro, e pela interpretação freudiana do parricídio como mito que estabelece o crime, e consequentemente a culpa, como laço social. A dramaturgia e a teoria são os dois pólos de investigação do presente projeto que se pretende de longo curso histórico, buscando capturar no texto literário imagens sobreviventes de gestos trágicos e épicos.
Uma união amorosa em prosa e poesia: national tales do Reino Unido e do Brasil?
Resumo: Os national tales ocupavam-se de registrar e superar os dilemas inerentes a um Estado multicultural como o Reino Unido. Obras como “The Wild Irish Girl” (1806), de Sydney Owenson, engendrariam um tecido polifônico, que conjuga prosa e poesia, e enredos sentimentais cujos protagonistas representam as diferentes nacionalidades britânicas, num expediente com que se transpõe sônica e alegoricamente o dito preconceito inglês contra irlandeses e escoceses. Circulando no Brasil por, pelo menos, cinco décadas, os national tales forneciam uma moldura em que a insuperável contradição entre a herança colonial e o nacionalismo pós-colonial poderia ser literariamente negociada numa união genérica e erótica entre culturas. Este projeto almeja discutir se, e como, “romances indianistas” como “O guarani”, de Alencar, apropriaram-se de tal moldura.
Palavras-chave: National tale; romance indianista; poesia; prosa; polifonia.
Diálogos de Ricamea: reflexões e debates sobre literatura e cultura desde uma perspectiva decolonial.
Um dos debates mais relevantes e atuais na América Latina é o relacionado ao pensamento decolonial. Entre outros, pensadores como Aníbal Quijano (2014), Enrique Dussel (1994), Ramón Grosfoguel (2022), Walter Mignolo (2017) e outros, têm contribuído à reflexão contemporânea não apenas sobre a colonialidade do poder, mas também sobre seu impacto no âmbito cultural.É importante ressaltar que essa reflexão sobre a América Latina não é nova; suas raízes remontam à Controvérsia de Valladolid, ocorrida entre 1550 e 1551 por Bartolomé de las Casas e Juan Ginés de Sepúlveda sobre os povos indígenas. Ao longo dos séculos, esse debate ganhou força, particularmente a partir do século XIX, quando nos Estados nacionais começaram a surgir letrados que formularam reflexões sobre a identidade nacional e continental. Exemplos fundamentais dessa tradição podem ser encontrados em obras como Facundo de Domingo Faustino Sarmiento, Nuestra América de José Martí, Ariel de José Enrique Rodó, La raza cósmica de José Vasconcelos, El laberinto de la soledad de Octavio Paz, Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda, Transculturación narrativa en América Latina de Ángel Rama e Las venas abiertas de América Latina de Eduardo Galeano, entre muitas outras. Essa breve lista já evidencia a riqueza e a complexidade dos debates sobre nossa identidade e nossa história.No campo cultural, também podemos lembrar a discussão sobre a especificidade (ontológica? antropológica? histórica? cultural?) de nossa região, o que leva à reflexão de que, aqui, as obras funcionam de maneira distinta em relação a um centro europeu, onde as esferas da ética, da estética e do conhecimento seriam campos bem delimitados (HABERMAS, 2002). Essa constatação levou alguns teóricos a postular conceitos como “transculturação” (RAMA, 1980), “entre-lugar” (SANTIAGO, 2000), “ideias fora do lugar” (SCHWARZ, 2014), “heterogeneidade” (CORNEJO POLAR, 1978), entre outros. Esses conceitos visam ajustar nosso olhar à especificidade do processo histórico latino-americano e possibilitar uma avaliação mais adequada de nossa literatura.Essa perspectiva levou autores como Josefina Ludmer e muitos outros que seguiram sua interpretação, a afirmar que nossa literatura teria perdido sua autonomia como forma específica de experiência e institucionalidade. De acordo com essa visão, nossa literatura passou a ser percebida como documento político ou histórico, diluindo a distinção entre literatura e não-literatura (LUDMER, 2010).Propomos uma leitura para além (ou aquém) do estético, considerando a literatura como uma prática ética, cognitiva e de intervenção, em diálogo com as ciências sociais, a filosofia, a política, a história etc. Além disso, buscamos explorar os trânsitos genéricos e as tradições literárias, cujo entrelaçamento é objeto de debate público. Isso, porque entendemos a literatura não apenas como um fenômeno artístico, mas como uma manifestação profundamente vinculada aos processos sociais e culturais.O título desta investigação inspira-se em três textos jornalísticos de José Joaquín Fernández de Lizardi, publicados no periódico El Pensador Mexicano: três cartas datadas de 20 de janeiro, 27 de janeiro e 3 de fevereiro de 1814, em plena Guerra da Independência. Nelas, por meio de um recurso fictício, um certo Manuel escreve a seu irmão, El pensador mexicano, uma relação sobre Ricamea, anagrama de América, ao estilo das Cartas persas de Montesquieu e das Cartas marruecas do espanhol José Cadalso. Sem cair em maniqueísmos ou em postulações de superioridade ou inferioridade da América frente à razão ocidental europeia, o personagem (máscara que Lizardi utiliza para expor suas ideias), apresenta uma série de dilemas e questões que, longe de oferecer soluções, exigem um debate futuro.É precisamente nesse ponto que esta investigação se situa.
Colaboradores
Projeto
ARTIMANHAS DA PÓS-MODERNIDADE: OMISSÕES, PROJEÇÕES, OPRESSÕES
Descrição: esgotamento da até então chamada modernidade, quando se tinha a impressão de que todas as experimentações se haviam esgotado. Há uma coincidência interessante entre os fatos da política (como a queda do muro de Berlim e do sistema soviético) e os fenômenos na esfera da cultura, com as suas características marcantes ao nível da forma e do conteúdo. Não 3 trataremos da epidemia da Convid-19, inserida, como não pode deixar de ser, nos demais contextos da fase histórica. Referimo-nos a uma crise e as crises, como não se ignora, possuem um perfil próprio a designar e a destacar, como, no século XVIII, as Criticas de Kant e o fim da visão metafísica enquanto explicação sobre o homem e suas circunstâncias. As crises possuem um perfil e uma anatomia, dotados de início, meio e fim, exatamente como se passa com o organismo humano e suas manifestações. É mais fácil percebê-las quando se distanciaram no Tempo e assim mesmo, muitas vezes, até que a reflexão se estabeleça e se realize transcorrem décadas ou séculos. No caso da pós-modernidade (ou pós-modernismo), cabe reconhecer que as silhuetas do período custaram a se fazer claras, disfarçadas por mil fenômenos, alguns apontando para a continuidade, em relação ao que veio antes, e outros para rupturas, mudanças de aspecto nunca desacompanhadas de alterações de conteúdo. Assim, por algum tempo, pode-se reconhecer no pós-modernismo elementos do modernismo, acrescidos de sinais próprios, como se retomassem ingredientes antigos e se avolumasse de novos. A essas indicações enganosas aqui chamaremos de artimanhas, quando o que é dá a impressão de ser outra coisa, desvia o olhar, engana, trapaceia e camufla o verdadeiro estado das coisas. Que na produção de cultura os exemplos apareçam com mais facilidade constitui um elemento de afirmação desta hipótese. As experimentações, sem sumir de todo, refluíram, tornaram-se discretas, como se um cansaço em relação a elas fosse ficando flagrante. Impossível, hoje, um James Joyce com as 4 peripécias formais que o notabilizaram e o tornaram famoso. Ele é, ainda, um autor respeitadíssimo, sem, no entanto, companheiros de percurso ou assemelhados nos dias que correm. O mesmo se poderia dizer de Guimarães Rosa, com as invenções linguísticas de Grande sertão: veredas. As narrativas adquiriram características de ousadias menores, marcadas pelo desejo de contar uma história, antes de enfeitá-las com floreios experimentalistas. E as criações de Franz Kafka, depois de alimentarem nossos pesadelos neles figurando como presenças definitivas, passaram a planos menos evidentes e discretos. Continuamos gostando de tais autores e admirando suas obras, só não queremos lhes seguir o caminho. Um balanço dos nomes aprovados para os prêmios Nobel, o que assegura destaque inescapável, alguns melhores do que outros, mas em geral interessantes, tornaram os exageros formais datados, de outra época, a produção atual se encaminhando para relatos nesse plano mais bem comportados, como no caso de John Coetzee e Elfried Jellinek, nesta última predominando, sobretudo, o traço da perversão. Podemos falar em artimanhas, porque o novo surge vestido de roupas sofisticadas, o que lhes assegura um monopólio das atenções até certo ponto assemelhado aos escândalos de outrora. No entanto, mesmo os escândalos já não paralisam, não roubam o fôlego, não param o trânsito e o mundo continua a girar em torno de seu eixo como se nada houvesse acontecido. Escândalos se infiltraram na política e aí se sucedem uns aos outros, como ruídos, cansando os ouvidos e as emoções, como se apontassem para o sistema em si e seus defeitos, muito mais do que para a época. Um equívoco, é claro. Aí se introduz uma surpresa, na medida em que a ideia de revolucionar, de transformar tudo, de recomeçar do zero ou de recomeçar em bases novas já não se acha presente..
Situação: Em andamento; Natureza: Pesquisa.
Alunos envolvidos: Doutorado: (1) .
Integrantes: Ronaldo Pereira Lima Lins – Coordenador / Ceila Maria Ferreira – Integrante / Nilton José dos Anjos – Integrante / Katia Barbosa – Integrante.
Projeto
ARTIMANHAS DA PÓS-MODERNIDADE: OMISSÕES, PROJEÇÕES, OPRESSÕES
Descrição: esgotamento da até então chamada modernidade, quando se tinha a impressão de que todas as experimentações se haviam esgotado. Há uma coincidência interessante entre os fatos da política (como a queda do muro de Berlim e do sistema soviético) e os fenômenos na esfera da cultura, com as suas características marcantes ao nível da forma e do conteúdo. Não 3 trataremos da epidemia da Convid-19, inserida, como não pode deixar de ser, nos demais contextos da fase histórica. Referimo-nos a uma crise e as crises, como não se ignora, possuem um perfil próprio a designar e a destacar, como, no século XVIII, as Criticas de Kant e o fim da visão metafísica enquanto explicação sobre o homem e suas circunstâncias. As crises possuem um perfil e uma anatomia, dotados de início, meio e fim, exatamente como se passa com o organismo humano e suas manifestações. É mais fácil percebê-las quando se distanciaram no Tempo e assim mesmo, muitas vezes, até que a reflexão se estabeleça e se realize transcorrem décadas ou séculos. No caso da pós-modernidade (ou pós-modernismo), cabe reconhecer que as silhuetas do período custaram a se fazer claras, disfarçadas por mil fenômenos, alguns apontando para a continuidade, em relação ao que veio antes, e outros para rupturas, mudanças de aspecto nunca desacompanhadas de alterações de conteúdo. Assim, por algum tempo, pode-se reconhecer no pós-modernismo elementos do modernismo, acrescidos de sinais próprios, como se retomassem ingredientes antigos e se avolumasse de novos. A essas indicações enganosas aqui chamaremos de artimanhas, quando o que é dá a impressão de ser outra coisa, desvia o olhar, engana, trapaceia e camufla o verdadeiro estado das coisas. Que na produção de cultura os exemplos apareçam com mais facilidade constitui um elemento de afirmação desta hipótese. As experimentações, sem sumir de todo, refluíram, tornaram-se discretas, como se um cansaço em relação a elas fosse ficando flagrante. Impossível, hoje, um James Joyce com as 4 peripécias formais que o notabilizaram e o tornaram famoso. Ele é, ainda, um autor respeitadíssimo, sem, no entanto, companheiros de percurso ou assemelhados nos dias que correm. O mesmo se poderia dizer de Guimarães Rosa, com as invenções linguísticas de Grande sertão: veredas. As narrativas adquiriram características de ousadias menores, marcadas pelo desejo de contar uma história, antes de enfeitá-las com floreios experimentalistas. E as criações de Franz Kafka, depois de alimentarem nossos pesadelos neles figurando como presenças definitivas, passaram a planos menos evidentes e discretos. Continuamos gostando de tais autores e admirando suas obras, só não queremos lhes seguir o caminho. Um balanço dos nomes aprovados para os prêmios Nobel, o que assegura destaque inescapável, alguns melhores do que outros, mas em geral interessantes, tornaram os exageros formais datados, de outra época, a produção atual se encaminhando para relatos nesse plano mais bem comportados, como no caso de John Coetzee e Elfried Jellinek, nesta última predominando, sobretudo, o traço da perversão. Podemos falar em artimanhas, porque o novo surge vestido de roupas sofisticadas, o que lhes assegura um monopólio das atenções até certo ponto assemelhado aos escândalos de outrora. No entanto, mesmo os escândalos já não paralisam, não roubam o fôlego, não param o trânsito e o mundo continua a girar em torno de seu eixo como se nada houvesse acontecido. Escândalos se infiltraram na política e aí se sucedem uns aos outros, como ruídos, cansando os ouvidos e as emoções, como se apontassem para o sistema em si e seus defeitos, muito mais do que para a época. Um equívoco, é claro. Aí se introduz uma surpresa, na medida em que a ideia de revolucionar, de transformar tudo, de recomeçar do zero ou de recomeçar em bases novas já não se acha presente..
Situação: Em andamento; Natureza: Pesquisa.
Alunos envolvidos: Doutorado: (1) .
Integrantes: Ronaldo Pereira Lima Lins – Coordenador / Ceila Maria Ferreira – Integrante / Nilton José dos Anjos – Integrante / Katia Barbosa – Integrante.
Linha 3
Comparatismo e diálogos interculturais
A Crítica Literária e as grandes questões da contemporaneidade.
Resumo: O projeto de pesquisa a ser realizado durante o período como pesquisador visitante no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura da UFRJ parte de indagações que acredito serem não só minhas mas da maioria dos pesquisadores da área de literatura: A que serve a crítica literária hoje? O que a caracteriza nesse momento vivido pelos estudos literários? Como os principais temas que ocupam discussões, inquietações e reflexões políticas contemporâneos com ela se relacionam? Como são incorporadas ao exercício crítico?
A crítica literária acontece, atualmente, no interior das universidades, nos cursos de Letras, seu espaço natural e onde os debates sobre literaturas devem ocorrer. O ensino da literatura não pode existir senão acompanhado do pensamento crítico, frequentemente debatendo-se com o cânone nacional ou universal. É a crítica que pode renová-lo, questioná-lo. O estudo da literatura contemporânea, sobretudo, exige do leitor, do crítico e do professor, o diálogo com as grandes questões que sacodem o universo cultural e político.
Pensar sobre a produção literária contemporânea solicita novas epistemologias, preocupação que vem ocupando minhas pesquisas recentes. Com longa trajetória como crítica literária preocupa-me a crescente diminuição de espaço em periódicos de grande circulação dedicado à produção literária. Revistas e suplementos especializados são poucos e de baixa circulação. Restam-nos as revistas acadêmicas, destinadas ao público especializado. Com tudo isso a troca de ideias, o debate corajoso e desvinculado do mercado é hoje restrito e frequentemente redundante e circular.
Faz parte dos objetivos do presente projeto de pesquisa a criação de possibilidades para que a crítica literária, tal como a compreendo nesse momento, torne-se vigorosa e atualizada. A esse esforço podemos chamar de preocupação com a divulgação científica, tarefa que deverá acontecer em simultaneidade com a pesquisa.
Música popular, emoção e política: a batalha dos afetos
Situação: Em andamento; Natureza: Pesquisa.
Integrantes: Eduardo Granja Coutinho – Coordenador.
Número de orientações: 1
"Oficinas de produção textual: práticas e teorias"
Resumo: Esta pesquisa dedica-se à descrição, análise e teorização de oficinas de produção textual, contemplando perfis de oficineiros, dispositivos de criação, seus objetivos, espaços de realização, público-alvo, sociabilidades e, quando possível, seus resultados.
Narrativas Carnavalescas, Enredamentos Sambistas: Literaturas Entrecruzadas no Terreiro-Asfalto
Resumo: O projeto, diante da amplidão dos debates teóricos não pacificados acerca dos “arquivos coloniais” (GANDHI, 1998, p. 5) e dos caminhos pós-coloniais, decoloniais e contra/anticoloniais (BISPO DOS SANTOS, 2023), bem como dos horizontes nebulosos da contemporaneidade brasileira, propõe o ensaiar de leituras transdisciplinares e interartísticas infladas do espírito da “Pedagogia das Encruzilhadas” (RUFINO, 2019, p. 106). Enfoca, para tal intento, narrativas carnavalescas (não restritas ao cânone literário escrito, mas abertas aos transbordamentos e as fricções) e produções artístico-culturais que tem perspectivado e ressignificado, no cenário dos desfiles das escolas de samba, o vasto tema da colonização e os seus desdobramentos, com ênfase nos imaginários de matrizes africanas e indígenas e na procura por referenciais iconográficos multicêntricos. Objetiva-se, a partir da costura de recortes (ou retalhos) teóricos, o desenhar de novos horizontes, algo assumidamente experimental e transdisciplinar. A possibilidade, em suma, da feitura de uma espécie de cartografia contemporânea de narrativas sambistas que se propõem a pensar o Brasil a contrapelo, guia de navegação que alberga estudos voltados para o debate não apenas de narrativas que desfiam o Carnaval enquanto tema; mas as próprias textualidades produzidas e performadas pelo e no Carnaval que risca o asfalto – caso de textos explicativos de enredos (chamados de sinopses), sambas de enredo, discografias, desenhos e projetos inacabados, pedaços de fantasias e alegorias, narrativas de matriz oral etc.
Teorias e práticas com outras·os: literatura, arte e arquivos
Resumo: O projeto investiga a experiência, expressão e transformação da subjetividade, agência e identidade por meio de um exame crítico de práticas artísticas contemporâneas e (inter)arquivísticas. Analisa experimentos formais e materiais na literatura, artes visuais, filme, e ficções sonoras, explorando como processos interartísticos desmantelam arquiteturas artísticas institucionais e borram gêneros tradicionais. A pesquisa demonstra como essas práticas reconfiguram subjetividades e agências através de formatos narrativos inovadores e do relato de experiências vividas.
Baseando-se no pensamento feminista, feminista negro e transfeminista, o projeto aborda a “virada arquivística”, examinando especificamente como intervenções como a “fabulação crítica” de Saidiya Hartman forjam contranarrativas e contravisualidades que revelam subjetividades, vozes e histórias alternativas. Esta análise é complementada por epistemologias relacionais e uma virada ontológica que desafiam visões ocidentais objetivistas e colonializantes. A pesquisa enfatiza que as práticas criativo-críticas contemporâneas emergem de experiências corporificadas e suas complexas modalidades de voz, particularmente aquelas de não-pertencimento, silenciamento sistêmico e deslocamento, gerando, assim, insights especulativos sobre seus desejos e imaginários.
Proponho explorar como artistas, escritores, ensaístas e pesquisadores abordam o arquivo para desvendar e articular modos de subjetividade e agência, enquanto também considero ficções “pós-experimentais” e práticas “metaficcionais”, conforme denominadas por Marjorie Perloff. Indo além das visões pessimistas e orientadas à vítima frequentemente empregadas em trabalhos historiográficos sobre vidas estilhaçadas, proponho-me a explorar o potencial crítico e utópico da fantasia social e de “belos experimentos” e o anseio inerente por outros mundos possíveis.
Literatura e violência: a irrealização do mundo, a ficcionalização do futuro e a reificação do presente no imaginário policial
O projeto apresentado a seguir constitui parte, com alguma variação, do programa de pesquisa que será realizado no âmbito da Cátedra Patricia Acioli, vinculada ao Colégio Brasileiro de Altos Estudos, coordenada pelo autor e que foi submetido ao edital de bolsas da Faperj para pesquisador visitante emérito (PVE) -a bolsa foi concedida a partir de novembro de 2024. A intenção é que a pesquisa forneça subsídios para a oferta simultânea de disciplinas, no PPG em Ciência da Literatura e no CBAE -instância acadêmica de pós-graduação da UFRJ.
Resumo:
Este projeto tem como objeto o universo inter-subjetivo dos policiais militares e civis, construído e expresso em entrevistas, depoimentos e relatos, disponibilizados em Podcasts e canais do YouTube. A finalidade será, por meio de aportes de estudos literários, antropológicos e de filosofia política, teorias do discurso e abordagens psicanalíticas sobre o sujeito e a linguagem, investigar as tramas simbólico-conceituais e as configurações cosmológico-afetivas que têm, no amálgama com a experiência coletiva cotidiana, promovido o recalque falocêntrico da diferença, a negação matricial da finitude e a blindagem libidinal nas culturas corporativas policiais hegemônicas, tornando-as refratárias à crítica auto-reflexiva e a exercícios radicalmente dialógicos. Por outro lado, o projeto tem um segundo objeto, como contra-ponto ao primeiro: aspectos da produção literária -especialmente em obras classificadas como especulativas ou, em termos tradicionais, de ficção científica (embora não exclusivamente)- que a constituem como o simétrico inverso do universo cultural focalizado no item anterior. Assim, passamos da exaltação da violência à sua esterilização; do poder auto-legitimado que reifica o que é, à sua desestabilização continuada; do congelamento do presente à fluidificação politizadora.
Tradução como pacto de hospitalidade
Situação: Em andamento; Natureza: Pesquisa.
Alunos envolvidos: Doutorado: (6) .
Integrantes: Marco Americo Lucchesi – Coordenador.
Machado de Assis Revisitado
Resumo: O campo dos estudos machadianos revela-se cada dia mais fecundo e mais plural, como atestam, por exemplo, o projeto Machado Quebradeiro, as atividades dos diferentes grupos de pesquisa do CNPq dedicados ao autor e a existência e persistência das revistas digitais Machado de Assis em linha e Machadiana Eletrônica. Diante desse cenário, e para retomar uma imagem concebida por Silviano Santiago, desbastar a muralha rever e tensionar os pressupostos teóricos, críticos e historiográficos da tradição machadiana afigura-se tão importante quanto expandir o seu escopo temático. É daí que surge a ideia de passar em revista a obra de Machado de Assis, tendo como mote uma tópica tomada de empréstimo a essa mesma obra: a visita. Na prosa de ficção machadiana e também no drama, as personagens fazem constantemente visitas umas às outras. Mais do que a rua ou que a alcova, a sala de visitas é o palco principal das ações que têm lugar nos romances, contos e nas peças de teatro do escritor, em que esse hábito social ganha contornos de rito, seguindo uma liturgia própria. Flagrando uma sociedade a célebre “medida fluminense” que busca conciliar um passado agrário, marcadamente senhorial, com um projeto de futuro urbano e liberal, Machado elege a visita como ritual por excelência de consolidação dos vínculos interfamiliares, bem como dos papéis intrafamiliares. A visita, cabe observar, não se apresenta, nesse contexto, como fenômeno discreto, descontínuo, mas sim como série: é na sequência de uma série de visitas que os arcos de enredo são construídos, por meio das insistências e resistências que se vão acumulando. Este projeto de pesquisa busca retornar ao exame cerrado da ficção machadiana, em suas condições específicas de produção e circulação, com o olhar atento a alguns temas que já foram objeto de distintas visitações críticas, a fim de identificar as insistências e, por meio do movimento de síntese delas, propor leituras que quebrem as resistências ainda existentes. Com esse intuito, o projeto articula-se em torno de quatro eixos temáticos, que agregam algumas das suas principais questões de interesse: os dois primeiros buscam criar hipóteses sobre os processos e procedimentos da escrita machadiana, tanto a biográfica quanto a ficcional, privilegiando a dimensão da produção; ao passo que os dois último levantam hipóteses sobre os movimentos de aproximação e distanciamento da obra machadiana em relação a escolas e movimentos que a antecederam, sucederam ou que conviveram com ela, ou seja, privilegiam a dimensão da circulação.
Escrita da vida em risco no espaço : literatura , história e performance no Brasil contemporâneo
Por uma cartografia dos corpos, narrativas da deficiência na literatura. Duração
Resumo: O presente projeto de pesquisa propõe a investigação das formas de representação e autorrepresentações da deficiência tendo como referência a emergência de uma nova episteme para nomeação e caracterização deste grupo social a partir de um modelo social da deficiência. Dessa forma, ao campo teórico dos estudos de literatura serão acrescidos conceitos como diferença, deficiência, identidade e representação do Outro, especialmente caros aos Estudos Culturais e ao pensamento Pós-Colonial. O interesse pela questão deriva da constatação da crescente produção literária contemporânea que coloca em evidência sujeitos e situações que demarcam as contingências das questões políticas, identitárias, sociais e culturais das pessoas com deficiência. Seja em forma de ensaio, relatos autobiográficos e narrativas literárias, é possível observarmos a presença de uma discursividade que examina com atenção a questão da deficiência na produção cultural contemporânea.
