teses
Quadriênio 2024 - 2021Total de teses defendidas: 16
TESES DEFENDIDAS EM 2022
Total de teses defendidas: 8
Adriana Madeira Coutinho
Orientador(a): Beatriz Resende
Páginas: 161
Resumo
Esta tese retrata os problemas acarretados pelo gênero como uma questão para a literatura e para a construção do cânone a partir de um entendimento sobre como são reconhecidas as mulheres ou corpos dissidentes no sistema vigente, qual seja, capitalista, patriarcal, racista. Em um duplo gesto, através da escrita de cartas, relato fatos do cotidiano das mulheres em uma perspectiva feminista, considerando o corpo que escreve e o tempo-espaço em que este corpo está circunscrito no universo, tecendo um caminho que vai da teoria à ação. Parte das indagações levantadas por esta pesquisa foram respondidas pelas teorias epistemológicas feministas, proporcionando assim conclusões relativas a como o gênero é levado em consideração mesmo que seja para ser desconsiderado, ou seja, para ocupar um lugar de demérito dentro do que ainda é consagrado pela academia.
Palavras-chave: Feminismos, resistência, gênero, escrita e patriarcado
Abstract
The present thesis depicts the issues brought by “gender” as a question to the literature and for the construction of the canon from an understanding about how are recognized the women or the dissident bodies under the ruling system, namely, capitalist, patriarchal and racist. In a double gesture, through the writing of letters, I report women’s everyday facts in a feminist perspective, considering the body that writes and the time-space in which this body is circumscribed in the universe, weaving a way that goes from theory to action. Part of the inquiries brought by this research had been answered by the feminist epistemological theories, thus providing conclusions regarding how gender is taking into consideration even if it is to be disregarded, that is, to move into a demerit place inside what is still consecrated by the academy.
Keywords: Feminisms, resistance, gender, writing and patriarchate.
André Luís Mourão de Uzêda
Título: A poética patrimonial de Manuel Bandeira: Crônicas da província do Brasil, o monumento menor da brasilidade modernista
Orientador(a): Frederico Augusto Liberalli de Góes
Páginas: 325
Resumo
Em perspectiva interdisciplinar, esta tese propõe uma aproximação entre os estudos literários e os estudos de patrimônio cultural. Dedicando-se à crônica como objeto maior de interesse, analisa-se o hibridismo peculiar do gênero por nova abordagem: na seara entre o documento e o monumento. Centrando-se sobre o volume Crônicas da província do Brasil [1937], de Manuel Bandeira, investiga-se a conformação de uma poética patrimonial inscrita nesta obra resultante da confluência entre seu projeto literário “menor” e a ideologia da brasilidade modernista. Partindo da fortuna crítica dedicada ao aspecto da humildade em sua poesia, e dialogando com estudos contemporâneos de orientação crítico-dialética, apresenta-se a persona literária do “poeta menor” como um “constructo” de sua ambivalência: o sujeito simples e humilde apegado a referenciais coloniais, patriarcais e aristocráticos de uma infância idealizada. São mobilizados fundamentos da teoria do discurso com o intuito de depurar, na formação imaginária bandeiriana, a enunciação de uma “retórica do declínio”: nas ruínas do passado o poeta projeta a sua vida arruinada. Integrando o grupo de intelectuais modernistas da Academia SPHAN, o escritor inscreve-se em uma formação discursiva ampliada – a “retórica da perda” – que orienta a política patrimonial brasileira nos anos 1930. Da convergência entre ambas as retóricas, Manuel Bandeira formula uma concepção poético-patrimonial original fincada sobre um paradoxo fundante: o “Brasil todo” ainda “província” é monumentalmente menor. Nesse sentido, as próprias Crônicas da província do Brasil são analisadas como o “monumento menor” da brasilidade modernista, no qual o patrimônio cultural irrompe em três vertentes: material, imaterial e literário.
Palavras-chave: Brasilidade modernista. Crônica. Crônicas da província do Brasil. Manuel Bandeira. Patrimônio cultural.
Resumen
En una perspectiva interdisciplinar, esta tesis propone aproximar los estudios de patrimonio cultural de los literarios. Dedicándose a la crónica como principal objeto de interés, se analiza la peculiar hibridez del género a través de un nuevo enfoque: entre las sendas del documento y del monumento. Centrándose en el volumen Crônicas da Província do Brasil [1937], de Manuel Bandeira, investigase la conformación de una poética patrimonial inscrita en esta obra resultante de la confluencia entre su proyecto literario “menor” y la ideología de la brasilidad modernista. Partiendo de la fortuna crítica dedicada al aspecto de la humildad en su poesía, y dialogando con estudios contemporáneos de orientación crítico-dialéctica, se presenta la figura literaria del “poeta menor” como un “constructo” de su ambivalencia: el simple y humilde sujeto apegado a referencias coloniales, patriarcales y aristocráticas de una infancia idealizada. Son utilizados los fundamentos de la teoría del discurso con el objetivo de investigar, en la formación imaginaria del autor, el enunciado de una “retórica de la decadencia”: sobre las ruinas del pasado el poeta proyecta su vida arruinada. Integrando el grupo de intelectuales modernistas de la Academia SPHAN, el escritor inscribese en una formación discursiva ampliada – la “retórica de la pérdida” – que orienta la política patrimonial brasileña en la década de 1930. A partir de la convergencia entre ambas retóricas, Manuel Bandeira formula una concepción poético-patrimonial original a partir de una paradoja elemental: “todo el Brasil” que sigue “provincia” es monumentalmente menor. Así, las Crônicas da província do Brasil son analizadas como el “monumento menor” de la brasilidad modernista. En ellas, el patrimonio cultural irrumpe en tres aspectos: material, inmaterial y literario.
Palabras clave: Brasilidad modernista. Crónica. Crônicas da província do Brasil. Manuel Bandeira. Patrimonio cultural.
Résumé
Dans une perspective interdisciplinaire, cette thèse propose un rapprochement entre les études littéraires et les études du patrimoine culturel. Se consacrant à la chronique comme objet d’intérêt majeur, l’hybridité propre du genre est analysée à travers une nouvelle approche: dans le champ entre le document et le monument. À partir du volume Crônicas da Província do Brasil [1937], de Manuel Bandeira, on interroge la conformation d’une poétique patrimoniale inscrite dans cet ouvrage résultant de la confluence entre son projet littéraire « mineur » et l’idéologie de la brésilienité moderniste. Partant de la fortune critique dédiée à l’aspect d’humilité dans sa poésie, et dialoguant avec les études contemporaines d’orientation critique-dialectique, la personnalité littéraire du « poète mineur » est présentée comme une « construction » de son ambivalence: le sujet simple et humble attaché aux références coloniales, patriarcales et aristocratiques d’une enfance idéalisée. Des bases de la théorie du discours sont mobilisées dans le but d’épurer, dans la formation imaginaire de Bandeira, l’énonciation d’une « rhétorique du déclin »: sur les ruines du passé le poète projette sa vie ruinée. Intégrant le groupe d’intellectuels modernistes de l’Academia SPHAN, l’écrivain s’inscrit dans une formation discursive élargie – la « rhétorique de la perte » – qui guide la politique patrimoniale brésilienne des années 1930. De la convergence entre les deux rhétoriques, Manuel Bandeira formule une conception poétique-patrimoniale appuyée sur un paradoxe fondateur: le « tout Brésil » qui demeure « province » est monumentalement plus petit. En ce sens, la publication Crônicas da província do Brasil elle même est analysée comme le « monument mineur » de la brésilienité moderniste, dans laquelle le patrimoine culturel éclate en trois aspects: matériel, immatériel et littéraire.
Mots-clés: Brésilienité moderniste. Chronique. Crônicas da província do Brasil. Manuel Bandeira. Patrimoine culturel.
Guilherme Belcastro de Almeida
Título: Ir e vir da filiação na escrita latino-americana contemporânea
Orientador(a): Flávia Trocoli Xavier da Silva
Páginas: 145
Resumo
Esta tese se dedica a analisar movimentos de afastamento e retorno à filiação na escrita de algumas autoras latino-americanas dos últimos anos. Nesse caminho, me aproximo a algumas obras de Alejandra Costamagna ([2018] 2020), Tamara Kamenszain (2018, 2021), Jazmina
Barrera (2020) e Isabel Zapata (2021), buscando observar como cada uma delas recoloca a filiação a partir de diferentes pontos e com diferentes repercussões em suas escritas. São obras que por vezes procuram se afastar de certa tradição – seja familiar ou literária –, rompendo laços que não lhes servem, mas também, por outras vezes, tecem novas redes que traçam pontes entre gerações, entre autoras e autores que elaboram, em suas obras, formas de reinterpretar heranças e criar novas linhagens.
Palavras-chave: filiação; linhagem; tradição; herança; literatura latino-americana
Resumen
Esta tesis se dedica al análisis de movimientos de acercamiento y alejamiento a la filiación en la escritura de algunas autoras latinoamericanas de los últimos años. En este trayecto, me acerco a algunas obras de Alejandra Costamagna ([2018] 2020), Tamara Kamenszain (2018, 2021), Jazmina Barrera (2020) e Isabel Zapata (2021), buscando observar las maneras como cada una de ellas reubica la filiación desde distintos puntos y con diferentes repercusiones para sus escrituras. Son obras que, algunas veces, quieren alejarse de cierta tradición – familiar o literaria –, rompiendo lazos que no les sirven, pero también, otras veces, tejiendo nuevas redes que trazan puentes entre generaciones, autoras y autores que elaboran, en sus obras, formas de reinterpretar herencias y crear nuevos linajes.
Palabras-clave: filiación; linaje; tradición; herencia; literatura latinoamericana.
Abstract
This thesis analyses the movements of distancing and approaching to filiation in the writing of some Latin American authors from recent years. In this path, I approach some works of Alejandra Costamagna ([2018] 2020), Tamara Kamenszain (2018, 2021), Jazmina Barrera
(2020) and Isabel Zapata (2021), examining the ways in which each one of them repositions filiation and its repercussions to their writing. These are books that, sometimes, distance themselves from family and literary traditions, breaking ties that doesn’t fit them, but also
weaving new nets that build bridges between generations and other authors that elaborate, in their own works, ways of reinterpreting inheritances and creating new lineages.
Keywords: filiation; lineage; tradition; inheritance; Latin American literature.
Gustavo Deister Dias Barbosa
Título: O espaço da aberração: ensaios de metacinetropia
Orientador(a): Ricardo Pinto de Souza
Páginas: 140
Resumo
Há muito, a literatura e as outras artes, assim também saberes como a filosofia, a antropologia, a psicanálise entre outros, formulam alguma origem à figura humana. Em qualquer formulação, contudo, podemos apreender uma espécie de código definido pelas noções de espacialidade e temporalidade específicas dessa figuração. Este ensaio tem como tendência pensar a literatura através de noções singulares de espaço e tempo. Dessa forma, o plano da criação artística opera uma semiótica das fronteiras do homem, onde não é possível mais dizer de uma obra iminentemente humana, mas sim de uma deformação, e mais além, de uma aberração desta. O título O espaço da aberração pode dizer respeito a uma anti-história de parte da metafísica filosófica e sua verticalidade. Por outra via, a arte vem desde sempre, das pinturas rupestres ao nosso século, operando por uma transversalidade da forma humana, onde o homem é lançado para fora de si mesmo. Pensar uma ontologia transversal para arte exige, pois, deslocalizar alguns topoi da antropotécnica: o homem pensado através do corpo, da luz, da linguagem, da morte. Em todos esses planos, é possível observar uma arte da gênese, que por si só já tem a potência de compreender o homem através da figuração, mas por outro lado, por tensões e fissuras, uma arte da transfiguração e da aberração. Despretensioso de sistematizar ou dar um sentido universal à história da arte, eis diante do leitor um pequeno bestiário sobre as bordas do fenômeno humano.
Palavras-chave: aberração; arte; espaço; humano; ontologia.
Abstract
Since long, literature and other arts, so knowledges as philosophy, anthropology, psychoanalysis among others, formulate a origin to the human figure. In any formulation, however, we can apprehend a type of code defined by the notions of spatiality and temporality specific to this figuration. This essay tends to think literature through a singular notion of space and time. In this way, the artistic creation plan operates a semiotic of the frontiers of human, where it is no longer possible to say of an imminently human work, but a deformation, an aberration of this. The title The space of aberration may refer to an anti history of part of philosophical metaphysics and its verticality. In another way, art has always existed, from cave paintings to our century, operating through a transversality of the human form, where man is thrown out of himself. To think of a transversal ontology for art requires, therefore, to unlocate some topoi of anthropotechnics: man thought through the body, light, language, death. In all these plans, it is possible to observe an art of genesis, which in itself already has the potency to understand man through figuration, but on the other hand, through tensions and fissures, an art of transfiguration and aberration. Unpretentious to systematize or give a universal meaning to art history, here is before the reader a small bestiary on the boders of the human phenomenon.
Keywords: aberration; art; space; human; ontology.
Résumé
La littérature et d’autres arts, ainsi que des connaissances comme la philosophie, l’anthropologie et la psychanalyse, ont formulé depuis longtemps une origine pour la figure humaine. Néanmoins, il est possible de saisir, dans chaque formulation, une sorte de code défini par les notions de spatialité et de temporalité propres à cette figuration. Cet essai tend à penser la littérature à travers les notions singulières d’espace et de temps. Dans ce sens, le plan de la création artistique se réalise par rapport une sémiotique des frontières de l’homme, où il n’est plus possible de parler d’une œuvre humaine imminente, mais d’une déformation, et au delà, d’une aberration de celle-ci. Le titre L’espas de l’aberration fait référence à une anti
histoire d’une partie de la métaphysique philosophique et de sa verticalité. Autrement dit, l’art a toujours existée, des peintures rupestres qui survivent jusqu’à notre siècle, en opérant par une transversalité de la forme humaine, où l’homme est jeté hors de lui-même. Ainsi, penser une ontologie transversale de l’art implique, en particulier, la délocalisation de certains topoi
de l’anthropotechnique: l’homme pensé à travers le corps, la lumière, le langage, la mort. Dans tous ces plans, ce que l’on voit s’approche d’un art de la genèse, qui a déjà en lui-même la puissance de comprendre l’homme à travers la figuration, mais d’autre part, à travers les tensions et les fissures; un art de transfiguration et d’aberration. Sans la prétention de systématiser ou donner un sens universel à l’histoire de l’art, voici devant vous un petit bestiaire aux frontières du phénomène humain.
Mots-clés: aberration; art; espace; humain; ontologie.
Jucilene Braga Alves Mauricio Nogueira
Orientador(a): Beatriz Vieira de Resende
Páginas: 140
Resumo
Esta tese parte de reflexões propostas por Michel Foucault acerca da sexualidade para salientar o caráter arbitrário e político que tornou esse conceito um aparato discursivo violento que, historicamente, subjetivou corpos e objetificou sujeitos, dentre os quais, nesta pesquisa, destaco as mulheres negras. Apresento um breve percurso a respeito da elaboração de imaginários, inclusive literários, que alimentaram e ainda alimentam o valor social atribuído a essas mulheres.No entanto, darei destaque a certa profusão contemporânea de um discurso sexual poetizado por autoras negras que contesta e rasura estereótipos sexuais, reiventando múltiplas possibilidades de viver o prazer. Intelectuais negras como bell hooks, Lélia Gonzalez, Patricia Hill Collins entre outras, já destacavam a importância da apropriação da linguagem por mulheres negras e, nesta tese, proponho o conceito de sexualidade lírica como um modo singular de notar essa apropriação à medida que articula, na poesia e na crítica, sexo, corpo e linguagem, realçando seus efeitos políticos e estéticos. Poemas selecionados de quatro autoras negras contemporâneas: Conceição Evaristo, Cristiane Sobral, Tatiana Nascimento e Natasha Felix formam o corpus literário deste trabalho e nos permitem, por meio da observação de seus recursos estilísticos e de linguagem, sublinhar a importância desse movimento poético que não se limita à palavra, mas a utiliza como trincheira.
Palavras-chave: poesia contemporânea; sexualidade; mulheres negras
Abstract
This thesis has to do with the reflections proposed by Michael Foucault concerning sexuality to stress the arbitrary and political character that turned this concept into a violent discursive apparatus that, historically, subjectivized bodies and objectified individuals, among them, in this research, I highlight black women. I present a brief course in relation to the elaboration of imaginary scenarios, including the literary ones, that feed and yet again feed the social value given to those women. However, I will give emphasis to contemporary abundance of a sexual speech poetized by black authors that contests and crosses out sexual stereotypes, reiventing multiple ways of living the pleasure. Intellectual black women such as: Bell Hooks, Lélia Gonzalez, Patricia Hill Collins among others, had already stressed the importance of language appropriation by black women, therefore in this thesis I propose the concept of the lyrical sexuality as a singular way of perceiving this appropriation as it articulates, in poetry and in the criticism, sex, body and language, highlighting its political and aesthetic effects. Poems selected by four black contemporary authors, such as: Conceição Evaristo, Cristiane Sobral, Tatiana Nascimento e Natasha Felix constitute the literary corpus of this project, and allow us, by means of observation of its stylistic resources and language, to underline the importance of this poetical movement that is not restricted to words, however it uses them as a trench.
Keywords: contemporary poetry, sexuality; black women
Marcela Rezende e Silva Bettega Filizola
Título: Virginia Woolf & Francesca Woodman: movimentos do pensamento
Orientador: Eduardo dos Santos Coelho
Coorientadora: Heloisa Helena Oliveira Buarque de Hollanda
Páginas: 171
Resumo
A presente pesquisa propõe uma leitura contemporânea das obras da escritora inglesa Virginia Woolf e da fotógrafa estadunidense Francesca Woodman. A partir de questões de gênero e entendendo como esse construto social se torna poroso no trabalho de ambas, busca-se fazer uma crítica ao sujeito hegemônico para repensar as organizações ontológicas e epistemológicas ocidentais. Elabora-se uma reflexão acerca de uma filosofia ético-política com base em leituras teóricas feministas e queer, em especial o conceito de Judith Butler de “vidas precárias” e de uma precariedade comum que une todas as vidas, sejam elas humanas ou não humanas. Este trabalho procura olhar criticamente para a categoria “mulher” presente em Woolf e Woodman, explorando a problemática da casa, do corpo e dos espaços públicos e privados, de modo a pensar a materialidade atuante na linguagem de suas obras para criar fugas e desvios dentro da normatividade e de uma visão binária de mundo. Para abordar tais questões, utiliza-se principalmente três romances de Virginia Woolf — To the Lighthouse, Between the Acts e Orlando: A Biography — e dois ensaios longos — A Room of One’s Own e Three Guineas — em uma leitura comparativa com diversas séries fotográficas de Francesca Woodman. Ao considerar de que maneira corpo, linguagem e pensamento atuam em suas obras, analisa-se um movimento de performance e de desfazimento do “eu” como proposição para outra ética e forma de vida.
Palavras-chave: Virginia Woolf; Francesca Woodman; teoria feminista; teoria queer; fotografia.
Abstract
The present research proposes a contemporary reading of English writer Virginia Woolf’s oeuvre and American photographer Francesca Woodman’s artistic work. By conceptualizing gender issues and understanding how this social construct becomes porous in their works, this dissertation seeks to criticize the hegemonic individual to rethink Western ontological and epistemological organizational methods. An ethical-political philosophy based on feminist and queer theoretical readings guides this analysis, especially Judith Butler’s concept of “precarious lives” and a common precariousness that unites all lives, whether human or non-human. The intent is to look critically at the category of womanhood present in Woolf and Woodman, exploring themes such as the house, the body, and public and private spaces, in order to think about the materiality active in the language explored in their works as they create escapes and deviations within normativity and a binary worldview. To address these questions, three novels by Virginia Woolf are investigated—To the Lighthouse, Between the Acts, and Orlando: A Biography—and two long essays—A Room of One’s Own and Three Guineas—in a comparative reading with several photographic series by Francesca Woodman. To consider how body, language, and thought act in their oeuvre, this work analyses a performative movement of undoing the “I” as a proposition for another ethics and way of life.
Keywords: Virginia Woolf; Francesca Woodman; feminist theory; queer theory; photography.
Mayara Alexandre Costa
Título: OLHE PARA MIM DE NOVO: corpos, territórios, rotas e desvios do sertão nordestino
Orientadora: Beatriz Viera de Resende
Páginas: 171
Resumo
Este trabalho tem como propósito investigar as relações corpo e território em obras que se reportam ao sertão nordestino em diferentes momentos da literatura brasileira. Em um primeiro eixo de questões, o intuito é analisar como foi moldado narrativamente este território e inscrito nele os corpos de seus habitantes. O intuito é especular em certas imagens e discursos, de que forma se projetou sobre eles hierarquias e exclusões de classe, raça, gênero, cultura. Para tanto, irei analisar as obras: Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, e A bagaceira (1928), de José Américo de Almeida. O percurso aqui escolhido visa iluminar as políticas que inscrevem e classificam corpos pertencentes ao sertão sobre ordenamentos hierárquicos e economias de vida e morte – isto é, os ordenamentos biopolíticos que produzem alguns corpos para “fazer viver” e outros para a exploração, coisificação ou abandono. Veremos como essa distribuição classificatória de corpos e territórios foi instituído pelo dispositivo de colonialidade que, dentre outros efeitos, produziu um visão do sertão nordestino patriarcalizada. Além de privilegiar narrativas que se centraram na agência dos Homens nesse espaço, esse processo excluiu a participação das mulheres (e outras minorias) na construção de seu imaginário, invisibilizou e/ou rebaixou suas produções subjetivas
e materiais, seus modos de ocupação espacial, seus agenciamentos individuais e coletivos, suas formas de relação e convivência com o sertão. No segundo eixo de questões que mobilizam este trabalho, nos deteremos na produção epistemológica de sujeitos que, assim como os habitantes do sertão, foram historicamente acusados de serem “natureza”. Veremos a partir das proposições dos feminismos materiais, comunitários e decoloniais concepções contra-patriarcais das relações corpo-território. Esses feminismos repensam as fronteiras coloniais entre humano e não humano e estabelecem a partir de cosmologias e concepções não antropocêntricas do mundo, imbricações
entre seus corpos e seus espaços de vida. Além disso, refletem sobre as consequências da colonialidade de gênero em suas comunidades, bem como, denunciam a toxicidade dos modos de habitar heteropatriarcais e capitalistas do ocidente e propõem como alternativa a esse modelo, formas de vida sistêmicas baseadas na ética do cuidado e na interdependência radical. Por último, nos debruçaremos na análise do romance Outros Cantos (2016), de Maria Valéria Rezende. Veremos de que forma são tecidas as relações corpo-território na obra e como a narrativa se relaciona com o acervo de imagens consolidadas sobre esse espaço e sobre os corpos que o atravessam. O intuito é verificar de que modo uma narrativa escrita a partir de um corpo de mulher cria imagens despatriarcalizadas do sertão, colaborando assim com a reconceituação e a reconfiguração imaginária desse território. A hipótese é a de que ao iluminar as práticas de cuidado territorial e comunitário protagonizadas pelas mulheres, a narrativa desloca o imaginário colonial e androcêntrico que marca os materiais estéticos que historicamente se reportaram ao sertão nordestino. Ao mesmo tempo em que acentua os modos da comunidade de “fazer viver” num
mundo que se supõe asfixiado por diversas instâncias intangíveis de poder.
Palavras-chave: corpos; sertões; biopolítica; feminismos; ética do cuidado.
Abstract
The purpose of this paper is to investigate the relationship between body and territory in works that refer to the sertão (Brazilian Northeastern backlands) at different moments in Brazilian literature. In a first axis of issues, the intention is to analyze how this territory was narratively shaped and inscribed in it the bodies of its inhabitants. The intention is to speculate on certain images and discourses, to question how class, race, gender, and cultural hierarchies and exclusions were projected onto them. To this end, I will analyze the works Os sertões (1902), by Euclides da Cunha, and A bagaceira (1928), by José Américo de Almeida. The path chosen here aims to illuminate the politics that inscribe and classify bodies belonging to the sertão on hierarchical orderings and economies of life and death, that is, the biopolitical orderings that produce some bodies to “make live” and others for exploitation, objectification, or abandonment. We will see
how this classificatory distribution of bodies and territories was instituted by the device of coloniality that, among other effects, produced a patriarchalized vision of the northeastern sertão. Besides privileging narratives that focused on the agency of Men in this space, this process excluded the participation of women (and other minorities) in the construction of its imaginary, invisibilized and/or downgraded their subjective and material productions, their modes of spatial occupation, their individual and collective agency, their ways of relating and coexisting with the sertão. In the second axis of issues that mobilize this work, we will focus on the epistemological production of subjects that, like the inhabitants of the sertão, were historically accused of being “nature”. We will see from the propositions of material, communitarian, and decolonial feminisms counter-patriarchal conceptions of the body-territory relations. These feminisms rethink the colonial boundaries between human and non-human and establish, from cosmologies and non-anthropocentric conceptions of the world, imbrications between their bodies and their living spaces. Moreover, they reflect on the consequences of gender coloniality in their communities, denounce the toxicity of Western heteropatriarchal and capitalist ways of inhabiting, and propose, as an alternative to this model, systemic ways of living based on the ethics of care and radical interdependence. Finally, we will focus on the analysis of the novel Outros Cantos (2016), by Maria Valéria Rezende. We will see how body-territory relations are woven into the work and how the narrative relates to the collection of consolidated images about this space and the bodies that traverse it. The intention is to verify how a narrative written from a woman’s body creates depatriarchalized images of the sertão, thus collaborating with the imaginary reconceptualization
and reconfiguration of this territory. The hypothesis is that by illuminating the territorial and community care practices carried out by women, the narrative displaces the colonial and androcentric imaginary that characterizes the aesthetic productions that have historically reported on the northeastern sertão. At the same time it accentuates the community’s ways of “making live” in a world that is supposed to be asphyxiated by various intangible instances of power.
Keywords: bodies; backlands; biopolitics; feminisms; ethics of care.
Patrick Gert Bange
Orientadora: Flavia Trocoli Xavier da Silva
Páginas: 141
Resumo
Esta tese procura escrever uma passagem entre fragmentos de O lustre, 1946, de Clarice Lispector, e de Em busca do tempo perdido, 1913-1927, de Marcel Proust, a partir do modo como Walter Benjamin lê o problema da semelhança, em três tempos. No primeiro (I), leio passagens da Recherche a partir do ensaio de Benjamin, “À imagem de Proust”. Lê-se de que modo Benjamin traduz elementos da Busca na própria escrita do ensaio. No segundo (II), leio passagens de O lustre, acompanhando a imagem do chapéu, que mimetiza o segredo com que o romance se abre, quando os dois irmãos, Virgínia, a personagem principal, e Daniel, guardam segredo de um suposto afogado. A partir disso, perscruto o modo como o esquecimento se figura no livro. No terceiro tempo (H), proponho uma leitura das semelhanças e dessemelhanças legíveis no campo de forças que se coloca entre as duas obras, iniciando com o amor dos dois autores pelas portas. Entre essas portas da literatura, concluo que se pode enfatizar, em Proust, o ponto do “milagre de uma analogia”, ao passo que se lê, em Clarice, o ponto em que “cessa a analogia”. Em percurso pela floresta que se abre entre esses dois polos, examinando o modo como a noite, a sombra, a neblina e a tradução se figuram nos dois livros, chego à leitura da passagem secreta (sono mútuo entre as obras) entre uma cena em que o narrador proustiano avista três árvores e o procedimento formal de O lustre, esse ponto em que algo não cessa de não se escrever. Assim, quando cessa a analogia nos dois livros, se dá, ao mesmo tempo, um ponto que pede passagem entre um e outro. No centro em que nenhuma porta se abre, no centro de um segredo, uma porta discreta leva ao milagre de uma analogia, não nos livros, mas entre eles, o que deixa ler um rastro de elemento mágico, não-comunicativo da linguagem.
Palavras-chave: Marcel Proust; Clarice Lispector; Walter Benjamin; Analogia; Literatura.
Abstract
This Thesis seeks to write a passage between fragments of The Chandelier, 1946, by Clarice Lispector, and of In search of lost time, 1913-1927, by Marcel Proust, based on the way Walter Benjamin reads the problem of the similar, in three steps. In the first (I), I read passages from the Recherche based on Benjamin’s essay, “The image of Proust”. The way Benjamin translates elements of the Recherche into the writing of the essay is read. In the second (II), I read passages from The chandelier, following the image of a hat, which mimics the secret with which the novel opens, when two brothers, Virginia, the main character, and Daniel, keep the secret of a supposed drowned man. From there, I exam the way in which forgetfulness figures in the book. In the third step (H), I propose a reading of the similarities and dissimilarities in the field of forces that is placed between the two books, starting with the love the two authors have for the doors. Among these doors of literature, I conclude that one can emphasize, in Proust, the point of a “miracle of an analogy”, while one reads, in Clarice, the point in which “the analogy ceases”. Walking through the forest that opens up between these two poles, examining the way in which the night, the shadow, the fog and the translation appear in the two books, I arrive at a secret passage (mutual sleep between the works) between a scene in that the proustian narrator sees three trees and the formal procedure of The Chandelier, that point in which something never ceases not to be written. Thus, when the analogy ceases in the two books, there is, at the same time, a point that asks for passage between one and the other. In the center where no door opens, in the center of a secret, a discreet door leads to the miracle of an analogy, not in books, but among them, which leaves a trace of a magical, non-communicative element of language.
Keywords: Marcel Proust; Clarice Lispector; Walter Benjamin; Analogy; Literature.
TESES DEFENDIDAS EM 2021
Total de teses defendidas: 16
Ana Clara Rodrigues Ferraz
Título:A AUTÔMATA: A infamiliar no tema do duplo
Orientador(a): Ricardo Pinto de Souza
Páginas: 225
Resumo
Esta pesquisa analisa algumas personagens femininas da literatura fantástica a partir da relação que elas estabelecem com o tema do duplo. A partir do que chamei de tema da autômata, procurei perceber, inicialmente, como as figurativizações dessas personagens estão marcadas por expectativas e desejos dos narradores-personagens por elas apaixonados, que demonstram toda uma técnica de narração marcada por elementos paranoicos que exibem a fragilidade dos processos de construções identitárias que começam a se liquefazer com o advento da modernidade, ou seja, quando esse processo vai se tornando cada vez mais individualizado e o sujeito cada vez mais autoafirmado. Ao apontar essa presença feminina como um tema, pretendi destacar que ela tem importância estrutural para as obras analisadas, no sentido de que está diretamente ligada à relação entre os duplos através de uma estrutura triangular. Ao final do trabalho, busquei entender como esse núcleo temático-estrutural duplo-autômata se comporta numa mudança de perspectiva, isto é, quando a narração é de uma narradora-personagem inserida numa relação triangular entre duplos. Nesse contexto, as principais obras analisadas foram o conto “O Homem da Areia”, de E.T.A Hoffmann; os romances A invenção de Morel e Dormir ao sol e o conto “Em memória de Paulina”, de Adolfo Bioy Casares; e conto “A expiação”, de Silvina Ocampo. Para a análise do duplo e da relação triangular, o aporte se deu na abordagem de Sigmund Freud sobre a unheimlich e na de René Girard sobre o desejo triangular, mas com um questionamento do foco privilegiado que os eles dedicam ao papel do duplo, no caso de Freud, ou à relação entre mediador e sujeito desejante, no caso de Girard. A unheimlich, nesse contexto, aponta para o constante retorno e para a permanência do medo e da morte nas relações amorosas e triangulares. À leitura literária se somaram algumas abordagens de narrativas mitológicas no intuito de elucidar questões em torno da inquietação ou da infamiliaridade do corpo da mulher e de suas capacidades reprodutivas, questões que relacionam a posição monstruosa, aurática, fantasmática ou secundária que elas têm na narrativa com a tendência a uma eufemização de sua morte como troféu, como necessária, como fatalidade ou como destino. Assim, a delineação do tema da autômata possibilitou a percepção de paradoxos no processo de estereotipação da mulher ou da beleza feminina no que tange às tentativas de satisfação de um desejo individualista e narcisista do duplo ao mesmo tempo que culmina em sua própria destruição.
Palavras-chave: Autômata. Duplo. Apagamento feminino. Unheimlich. Desejo triangular.
Abstract
Esta investigación analiza algunos personajes femeninos de la literatura fantástica a partir de la
relación que establecen con la temática del doble. A partir de lo que llamé el tema de la
autómata, traté de percibir, inicialmente, cómo las figuraciones de estas personajes están
marcadas por las expectativas y deseos de los narradores-personajes enamorados de ellas, que
demuestran toda una técnica narrativa marcada por elementos paranoicos que exhiben la
fragilidad de los procesos de construcción de identidad que comienzan a licuarse con el
advenimiento de la modernidad. Al señalar esta presencia femenina como tema, quise resaltar
que tiene una importancia estructural para las obras analizadas, en el sentido de que está
directamente ligada a la relación entre los dobles a través de una estructura triangular. Al final
del trabajo, traté de entender cómo se comporta este núcleo temático-estructural doble-autómata
en un cambio de perspectiva, es decir, cuando la narración es de una narradora-personaje
insertada en una relación triangular entre dobles. En este contexto, las principales obras
analizadas fueron el cuento “El Hombre de Arena”, de E.T.A Hoffmann; las novelas La
invención de Morel y Dormir al sol y el cuento “En memoria de Paulina”, de Adolfo Bioy
Casares; y el cuento “La Expiación”, de Silvina Ocampo. Para el análisis del doble y la relación
triangular, la contribución se hizo en el acercamiento de Sigmund Freud a la unheimlich y en el
acercamiento de René Girard al deseo triangular, pero con un cuestionamiento del enfoque
privilegiado que dedican al papel del doble, en el caso de Freud, o la relación entre mediador y
sujeto deseante, en el caso de Girard. La unheimlich, en este contexto, apunta al retorno
constante y la permanencia del miedo y la muerte en el amor y en las relaciones triangulares.
Además de la lectura literaria, se agregaron algunos enfoques narrativos mitológicos con el fin
de aclarar cuestiones en torno de la inquietud y de la infamiliaridad del cuerpo de la mujer y
sus capacidades reproductivas, cuestiones que relacionan la posición monstruosa, aurática,
fantasmática o secundaria que tienen en la narrativa con la tendencia a encubrir su muerte como
trofeo, como necesaria, como fatalidad o como destino. Así, la delimitación del tema del
autómata posibilitó la percepción de paradojas en el proceso de estereotipación de la mujer o
de la belleza femenina con respecto a los intentos de satisfacer un deseo individualista y
narcisista del doble al mismo tiempo que culmina en su propia destrucción.
Keywords: Autómata. Doble. Borrado femenino. Unheimlich. Deseo triangular.
Ana Luiza Duarte de Brito Drummond
Título: A Autômata: a unheimlich no tema do duplo
Orientador(a): Ricardo Pinto de Souza
Páginas: 227
Resumo
Esta pesquisa analisa algumas personagens femininas da literatura fantástica a partir da relação que elas estabelecem com o tema do duplo. A partir do que chamei de tema da autômata, procurei perceber, inicialmente, como as figurativizações dessas personagens estão marcadas por expectativas e desejos dos narradores-personagens por elas apaixonados, que demonstram toda uma técnica de narração marcada por elementos paranoicos que exibem a fragilidade dos processos de construções identitárias que começam a se liquefazer com o advento da modernidade, ou seja, quando esse processo vai se tornando cada vez mais individualizado e o sujeito cada vez mais autoafirmado. Ao apontar essa presença feminina como um tema, pretendi destacar que ela tem importância estrutural para as obras analisadas, no sentido de que está diretamente ligada à relação entre os duplos através de uma estrutura triangular. Ao final do trabalho, busquei entender como esse núcleo temático-estrutural duplo-autômata se comporta numa mudança de perspectiva, isto é, quando a narração é de uma narradora-personagem inserida numa relação triangular entre duplos. Nesse contexto, as principais obras analisadas foram o conto “O Homem da Areia”, de E.T.A Hoffmann; os romances A invenção de Morel e Dormir ao sol e o conto “Em memória de Paulina”, de Adolfo Bioy Casares; e conto “A
expiação”, de Silvina Ocampo. Para a análise do duplo e da relação triangular, o aporte se deu na abordagem de Sigmund Freud sobre a unheimlich e na de René Girard sobre o desejo triangular, mas com um questionamento do foco privilegiado que os eles dedicam ao papel do duplo, no caso de Freud, ou à relação entre mediador e sujeito desejante, no caso de Girard. A unheimlich, nesse contexto, aponta para o constante retorno e para a permanência do medo e da morte nas relações amorosas e triangulares. À leitura literária se somaram algumas abordagens de narrativas mitológicas no intuito de elucidar questões em torno da inquietação ou da infamiliaridade do corpo da mulher e de suas capacidades reprodutivas, questões que relacionam a posição monstruosa, aurática, fantasmática ou secundária que elas têm na narrativa com a tendência a uma eufemização de sua morte como troféu, como necessária, como
fatalidade ou como destino. Assim, a delineação do tema da autômata possibilitou a percepção de paradoxos no processo de estereotipação da mulher ou da beleza feminina no que tange às tentativas de satisfação de um desejo individualista e narcisista do duplo ao mesmo tempo que culmina em sua própria destruição.
Palavras-chave: Autômata. Duplo. Apagamento feminino. Unheimlich. Desejo triangular.
Camila Oliveira Querino
Título: Jerusalém, a Emanação do Gigante Albião, uma tradução
Orientador(a): Prof. Doutor Marco Americo Lucchesi
Páginas: 572
Resumo
Tomando a Bíblia como “O Grande Código de Arte”, o poeta e artista visual inglês William Blake (1757-1827) apropriou-se de sua dicção e estruturas narrativas e textuais para produzir o épico Jerusalém A Emanação do Gigante Albião (1804-1820), que fecha seu ciclo profético. A proposta deste trabalho consiste em oferecer uma tradução comentada e anotada de Jerusalém com apresentação e discussão de algumas das questões que se colocam ao tradutor no empreendimento de transladar para um novo idioma uma obra multimídia fundada no intenso diálogo com seus intertextos. Serão consideradas no processo de tradução a instância artesanal da obra, que impõe limites à decodificação do texto e redimensiona a palavra em sua interação com as imagens; a sua polifonia mitopoética, que demanda procedimentos heterogêneos e multifários de tradução, especialmente no que diz respeito à toponímia e antroponímia; e finalmente, a centralidade do intertexto bíblico, que impõe ao tradutor sua reconstituição em favor da legibilidade da obra em um novo contexto de recepção.
Palavras-chave:
Tradução, William Blake, Romantismo Inglês, Intertextualidade
Abstract
Taking the Bible as “The Great Code of Art”, the English poet and visual artist William
Blake (1757-1827) makes use of its diction and textual and narrative structures in order
to produce the epic Jerusalem The Emanation of the Giant Albion (1804-1820), which
concludes his prophetic cycle. This dissertation aims at offering an annotated and
commented translation of Jerusalem, presenting and discussing some issues faced by the
translator who renders into a new language a multimedia work founded in an intense
dialogue with its intertexts. The process of translation took into account the craftsmanship
of the work, which imposes limits to the interpretation of the text as well as gives a new
dimension to the word in its interaction with the images; its mythopoetic polyphony,
which demands heterogeneous and variegated procedures of translation, especially when
it comes to toponymy and anthroponymy; and last but not least the prevalence of the
Biblical intertext, which imposes upon the translator its reconstruction in favor of the
readability of the work in a new context.
Débora Silvestre Santos Costa
Título:A ironia trágica em Dom Casmurro e São Bernardo: uma proposta de leitura.
Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo de Faria
Coutinho.
Páginas: 139
Resumo
A presente tese é um estudo comparado dos romances Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis, e São Bernardo (1934), de Graciliano Ramos. Tomando como ponto de partida a ideia de ironia trágica, conforme entendida por Moog (1939), Menke (2001) e Frye (2013), a autora procura mostrar como esse recurso narrativo pode ser considerado uma chave para a compreensão dos romances, uma vez que constitui um aspecto relevante da visão de mundo e do modo de composição dos autores, e revela os antagonismos presentes na construção dos personagens. Bento Santiago e Paulo Honório, o narrador protagonista de cada romance respectivamente, são homens solitários e melancólicos que, em idade avançada, escrevem sobre sua vida anterior com a intenção de entender seu passado e o insucesso de seu casamento. No entanto, como eles não mudam sua forma de pensar, são traídos pela sua própria intenção, e sua escrita acaba se tornando a ratificação de seu fracasso anterior. Em vez de atenuar seu sofrimento e a sensação de culpa com relação à esposa, eles confirmam a anulação delas, dando lugar a uma leitura alegórica da sociedade de seu país, segundo a qual maridos e mulheres representam as forças antagônicas que ainda hoje marcam a modernização conservadora à brasileira.
Palavras-chave: Ironia trágica; memorialismo ficcional; modernização conservadora; injunção à escrita.
Abstract
A presente tese é um estudo comparado dos romances Dom Casmurro (1899), de
Machado de Assis, e São Bernardo (1934), de Graciliano Ramos. Tomando como ponto
de partida a ideia de ironia trágica, conforme entendida por Moog (1939), Menke (2001)
e Frye (2013), a autora procura mostrar como esse recurso narrativo pode ser considerado
uma chave para a compreensão dos romances, uma vez que constitui um aspecto relevante
da visão de mundo e do modo de composição dos autores, e revela os antagonismos
presentes na construção dos personagens. Bento Santiago e Paulo Honório, o narrador
protagonista de cada romance respectivamente, são homens solitários e melancólicos que,
em idade avançada, escrevem sobre sua vida anterior com a intenção de entender seu
passado e o insucesso de seu casamento. No entanto, como eles não mudam sua forma de
pensar, são traídos pela sua própria intenção, e sua escrita acaba se tornando a ratificação
de seu fracasso anterior. Em vez de atenuar seu sofrimento e a sensação de culpa com
relação à esposa, eles confirmam a anulação delas, dando lugar a uma leitura alegórica da
sociedade de seu país, segundo a qual maridos e mulheres representam as forças
antagônicas que ainda hoje marcam a modernização conservadora à brasileira.
Palavras-chave: Ironia trágica; memorialismo ficcional; modernização conservadora;
injunção à escrita.
Ester Suassuna Simões
Título: O CONTAR SERTANEJO EM DIÁLOGO: ARIANO SUASSUNA, DOM PANTERO E OS NOBRES CAVALEIROS E BELAS DAMAS DA PEDRA DO REINO
Orientador(a): Professor Dr. Marco Americo Lucchesi
Páginas: 231
Resumo
O Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores (2017), livro ao qual Ariano
Suassuna dedicou cerca de trinta anos de sua vida, foi pensado como um projeto de síntese do
que o escritor produziu em várias modalidades artísticas. O romance é composto por oito cartas
que são assinadas por Dom Pantero do Espírito Santo e endereçadas aos “nobres cavaleiros e
belas damas da Pedra do Reino”. O Dom Pantero é uma das máscaras usadas por Antero
Savedra, um dos heterônimos “A.S.” que compõem o livro. Suassuna revela, com a publicação
desse romance, uma escrita performática e a experiência profunda de uma via de mão dupla –
a literatura influenciada pela vida e a vida transformada pela literatura. Neste trabalho,
investigamos a performance como caminho para essa síntese a partir de dois elementos centrais
na narrativa: o palco e a estrada. O palco das aulas-espetáculo de Suassuna, grande laboratório
para suas máscaras e sua pose performáticas, e o palco que se cria no próprio contar sertanejo.
A estrada nos guiou até São José do Belmonte, terra da Pedra do Reino, onde entrevistamos
contadores de história de idade avançada, imaginando-os como os destinatários das epístolas
de Dom Pantero. Investigamos a performance também em seus contares e criamos, a partir das
transcrições das entrevistas, sete diálogos em que eles conversam entre si e com os personagens
de Suassuna sobre temas como morte, festas da cidade, cangaço e criação artística. Na
montagem dos diálogos, encontra-se a potência da coletividade, da memória e da oralidade.
Palavras-chave: Ariano Suassuna; Dom Pantero; São José do Belmonte; Performance;
Memória.
Abstract
The Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores (Novel of Dom Pantero on the
sinners’ stage) is a book to which Ariano Suassuna dedicated thirty years of his life. It was
thought of as the synthesis of everything he had ever done with his art. The novel consists of
eight letters signed by Dom Pantero do Espírito Santo and addressed to the “noble knights and
beautiful ladies of Pedra do Reino”. Dom Pantero is a mask worn by Antero Savedra, one of
the “A.S.” heteronyms created in the book. The publication of the novel revealed that not only
Suassuna was using his biography in his literature, but it also went the other way around: he
himself was performing as some of his characters in many occasions. In this dissertation, we
investigate the performance as a path to this synthesis based on two central elements in the
narrative: the stage and the road. The stage of Suassuna’s show-classes, a great laboratory for
his masks, and the stage created in the Sertão (backlands) storytelling itself. The road led us to
São José do Belmonte where we interviewed elderly storytellers, imagining them as the
recipients of Dom Pantero’s epistles. We also investigated the performance they create through
storytelling. Finally, using the transcripts of the interviews, we put together seven dialogues in
which they talk among themselves and to the characters of Suassuna on topics such as death,
childhood, city festivities, cangaço and artistic creation. When assembling the dialogues we
were confronted with the power of collectiveness, memory and storytelling.
Keywords: Ariano Suassuna; Dom Pantero; São José do Belmonte; Performance; Memory.
Felipe Lima
Título:Forma-de-vida cervantina: exercícios de autopoiesis na obra de Juan Goytisolo
Orientador(a): Prof. Dr. Marco Americo Lucchesi
Páginas: 166
Resumo
A tese de doutorado propõe a conceituação de uma forma-de-vida cervantina a partir da
obra do escritor espanhol Juan Goytisolo e de seus exercícios autopoiéticos. Tecendo a
relação entre forma-de-vida, linguagem e literatura no pensamento de Giorgio Agamben e a
definição de antropotécnica e de imunologia geral do filósofo Peter Sloterdijk, debate-se
como as articulações entre uso e hábito fazem parte das práticas de leitura e escrita, com
períodos liminares de gestação poética, elaborados no diálogo entre Victor Turner e
Sloterdijk. Acompanhado de três movimentos de aproximação crítica, discute-se a ontologia
dos seres de ficção, conforme os apontamentos de Bruno Latour e os conceitos de paradigma
e de medialidade, com Agamben e Dieter Mersch. Elabora-se o contágio literário como um
processo de imunização simbólica a partir da ideia de autointoxicação voluntária de
Sloterdijk, de autopoiesis, definida por Francisco Varela e Mark Anspach, e o contágio como
critério estético para Liev Tolstói acompanhado da análise do romance Dom Quixote de la
Mancha, de Miguel de Cervantes, no diário do escritor Thomas Mann. Conclui-se com a
definição dos exercícios de autopoiesis de Goytisolo e o triplo contágio cervantino operado
em seus escritos.
Palavras-chave: Forma-de-vida cervantina; Juan Goytisolo; Autopoiesis; Seres de ficção;
Contágio literário.
Abstract
The doctoral thesis proposes the conceptualization of a cervantine form-of-life based on the
work of the Spanish writer Juan Goytisolo and his autopoietic exercises. Weaving the
relationship between form-of-life, language and literature in the thought of Giorgio Agamben
and philosopher Peter Sloterdijk’s definition of anthropotechnics and general immunology, it
discusses how the articulations between use and habit are part of reading and writing
practices, with liminal periods of poetic gestation elaborated in the dialogue between Victor
Turner and Sloterdijk. Accompanied by three movements of critical approach, it discusses the
ontology of the beings of fiction, according to Bruno Latour’s notes, and the concepts of
paradigm and mediality, with Agamben and Dieter Mersch. Literary contagion is elaborated
as a process of symbolic immunization based on Sloterdijk’s idea of voluntary
autointoxication, of autopoiesis, defined by Francisco Varela and Mark Anspach, and
contagion as an aesthetic criterion for Liev Tolstoy accompanied by an analysis of the novel
Don Quixote de la Mancha, by Miguel de Cervantes, in the diary of the writer Thomas Mann.
It concludes with the definition of Goytisolo’s exercises of autopoiesis and the triple
contagion Cervantes operated in his writings.
Keywords: Cervantine form-of-life; Juan Goytisolo; Autopoiesis; Beings of fiction; Literary
contagion.
Gabriel Caio Correa Borges
Título: A METRÓPOLE ALTERTEMPORAL: A NARRATIVA NA CANÇÃO PAULISTANA ENTRE 1950 & 1980;
Orientador(a):Frederico Augusto Liberalli de Góes;
Coorientador: Marcelo Diniz Martins.
Páginas: 260
Resumo
Nossa proposta de tese é reavaliar um entendimento recorrente sobre São Paulo conforme
o seu papel na modernidade brasileira. Trata-se da percepção de uma formação moderna
cuja escalada ao longo do século XX levou à aniquilação das formas e sensibilidades
arcaicas e tradicionais. Isto pesa consideravelmente sobre os fazeres populares locais, nos
quais se entende São Paulo como um espaço de encontros cosmopolitas ao invés de um
cenário histórico do desenvolvimento de práticas populares. Recuperando algo das
tradições e práticas subalternas pré-modernas, propomos que a moderna canção popular
paulistana também se estabeleceu através de uma percepção e sensibilidade sobre a cidade
recuperada dessas formações anteriores à modernização. Portanto, percebemos pela
recuperação desse rastro histórico algo próximo a uma tradição na canção paulistana que
atinge principalmente a lírica popular e serviu como realizadora de uma memória
ordinária em uma metrópole que associa a vivência ao presente. Então propomos uma
revisão do período de 1950 até 1980, considerado essencial na formação da moderna
canção paulistana, no que toca a leitura de canções cujo fim é a representação da própria
cidade. No que considera a evolução desse cancioneiro ao mesmo tempo que seu elo
memorial com o popular local, entendemos que a canção paulistana consolidou uma
tradição narrativa que busca recriar alguma experiência subalterna de cidade.
Palavras-chave: Tradição; Modernidade; São Paulo; Narrativa; Canção
Abstract
Our proposal is to reevaluate some recurrent meaning around the city of São Paulo in its
importance for the Brazilian modernity. Its about the perception of a modern formation
whose escalate over the course of the twentieth century brings the destruction of
traditional forms and sensibilities. Something that bear above the local folk production,
understanding São Paulo as a space of cosmopolite meetings rather then a historical place
which devolves folk practices. Recovering something of the pre-modern low strata
traditions and practices, we propose view the modern popular songs from São Paulo like
as realized by the perception and sensibility over the city, which are recovered form the
pre-modern formations. So, we realized the making of some type of tradition justified by
the recovery of that historical trace, which especially measures the popular lyricism and
serves for the emergency of some ordinary memory, which associate the lived experience
with the present time. We propose the review of the period between 1950 and 1980,
essential for the formation of São Paulo’s modern popular songs, focusing on songs which
thematize the city itself. To considerate the evolution of that songbook in the same time
which linked it to the memory of the local folk, we understood that the songs of São Paulo
reinforced a narrative tradition, which seeks to recreate some low strata experience of the
city.
Keywords: Tradition, Modernity, São Paulo; Narratives; Songs
Juliana Almeida Salles
Título: O relato de vida indígena, a autobiografia dos que não escrevem: uma análise de obras de Davi Kopenawa e Bruce Albert, Rigoberta Menchú e Elizabeth Burgos, e Lee Maracle e Don Barnett
Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo de Faria Coutinho
Páginas: 152
Resumo
O gênero “relato de vida indígena” é o foco desta tese. Por ser um tipo de literatura que,
embora mista, é em grande parte produção de povos indígenas – minorias cujos direitos têm
sido cerceados –, este gênero literário, apesar de não ser recente, é pouco trabalhado no meio
acadêmico. Assim, busco delimitar, aqui, textual e contextualmente, as características de tal
gênero, partindo de três obras primárias: A queda do céu: palavras de um xamã yanomami
(2015), de Davi Kopenawa e Bruce Albert, Meu nome é Rigoberta Menchú e assim nasceu
minha consciência (1992), de Rigoberta Menchú e Elizabeth Burgos, e Bobbi Lee: Indian
Rebel: Struggles of a Native Canadian Woman (1975), de Lee Maracle e Don Barnett. Todas
elas produções contemporâneas de grupos indígenas do continente americano e de autores não
indígenas que com eles colaboram, gravando, traduzindo, transcrevendo e editando os seus
relatos, as narrativas de si em questão possuem características em comum que se mostram
como marcas importantes do gênero: i) a narrativa oral contada pelo chamado “modelo”
(indígena); ii) a gravação, tradução, transcrição e edição por parte do chamado “redator” (não
indígena); iii) a autodiegese, e; iv) a temática nativa (envolvendo questões culturais, sociais,
políticas e históricas). A partir dos parâmetros iniciais estabelecidos, pude, então, discorrer
sobre outros pontos característicos dos relatos de vida indígena, a saber: a questão identitária,
a questão da autoria e do gênero literário, o propósito destas narrativas e seu público-alvo.
Assim, após investigar as peculiaridades do gênero a partir das obras primárias selecionadas,
parto para uma análise comparativa, levantando a questão: que outros gêneros literários
tangenciam o relato de vida indígena? E busco responder à pergunta, discutindo: i) narrativas
de vida étnica; ii) narrativas de exílio; iii) autoetnografia; iv) ecobiografia; v) memórias; vi)
história oral; vii) entrevista; viii) testemunho; e ix) bildungsroman – sendo que todas as
análises feitas são embasadas pelo corpus já previamente mencionado. Observe-se que o
conceito de gênero literário é aqui visto como um processo, e não como uma classificação
fixa e limitadora. É com base nessa visão e no intuito de ampliar os estudos acadêmicos sobre
o relato de vida indígena, que vem ocupando um espaço cada vez maior no conjunto da
produção literária do continente americano que trazemos nossa contribuição para esses
estudos, procurando, entre outras coisas, chegar o mais próximo possível de uma definição do
gênero.
Palavras-chave: Literatura Comparada, Literatura indigenista. Relato de vida indígena.
Abstract
The genre “indigenous life narrative” is the focal point of this thesis. Being a genre that,
however mixed, is in great part produced by indigenous people, a minority group whose rights
have been constantly under scrutiny, this literary genre, though not recent, is rarely studied in
the academic milieu. Thus, my purpose here is to draw a definition of the genre by focusing
on its specificities, and for that reason I take three narratives as a starting point: A queda do
céu: palavras de um xamã yanomami (2015), by Davi Kopenawa and Bruce Albert, Meu
nome é Rigoberta Menchú e assim nasceu minha consciência (1992), by Rigoberta Menchú
and Elizabeth Burgos, and Bobbi Lee: Indian Rebel Struggles of a Native Canadian Woman
(1975), by Lee Maracle and Don Barnett. All of them contemporary Native-American literary
productions, made in collaboration with non-indigenous authors who recorded, translated,
transcribed and edited their stories, this kind of life narrative has some points in common that
are seen here as important features of the genre: i) an oral narrative told by the so-called
“model” (an indigenous person); ii) the recording, translation, transcription and editing of the
text done by the so-called “writer”; iii) the auto-diegetic narrative; iv) the native thematic
cluster (involving cultural, social, political and historical issues). After establishing these
parameters, I was able to comment on other important features of this kind of indigenous life
narratives, such as the identity issue, the question of authorship and literary genre, this
narrative’s purpose and its audience. And then I come to focus on a comparative analysis, by
raising the question: what other genres have features in common with the indigenous life
narratives? In order to answer this question, I anayse i) ethnic life narratives; ii) exile
narratives; iii) auto-ethnography; iv) memoirs; v) oral histories; vii) interviews; viii)
testimony; and ix) bildungsroman, all of them based on the previously mentioned corpus. Let
it be clear that the concept of literary genre is here seen as a process, and not as a fixed or
limiting classification. It is based on this view and with the intention of bringing some
contribution to the academic studies of this type of narrative – that has been gradually
conquering a wider space in the literary cadre of the American continent – that we have
attempted to come as close as possible to a definition of the indigenous life narratives.
Keywords: Comparative Literature, Native-American Literature, Indigenous Life Narratives.
Leyliane Gomes da Silva
Título:“À margem de escrever”:
as cartas de Clarice Lispector
Orientador(a): Professora Doutora Flavia Trocoli Xavier da Silva
Páginas: 150
Resumo
No prefácio de Todas as cartas, Teresa Montero destaca que, desde a publicação
dos três primeiros livros de correspondências – Cartas perto do coração,
Correspondências e Minhas queridas, as cartas [de Clarice Lispector] cumpriram um
papel propulsor incomensurável”. Esta força impulsionadora refere-se à produção de
trabalhos acadêmicos e de livros em que os escritos epistolares de Clarice aparecem,
predominantemente, como fonte de pesquisa de dados biográficos, informações
contextuais, bastidores literários, mais alinhada ao lado do documento. Sem
desconsiderar essa importante função das correspondências na composição da vida e da
obra literária da escritora, esta tese propõe-se a elaborar, a partir do movimento que as
cartas engendram, outro modo de leitura para esses escritos de Clarice, partindo da
estrutura remetente – mensagem – destinatário, já estabelecida, em direção ao arranjo voz
ficcional – forma – leitores. Tal movimento de leitura entrecruzada entre obra e carta,
entre centro ficcional e margens, permitirá pensar também a tensão entre os gêneros,
mostrando na carta seu arranjo ficcional e, na obra, sua dimensão de endereçamento. A
fim de seguir o voo das cartas e das letras, cara leitora, caro leitor, este endereçamento é
trabalhado em três principais eixos: pensar o que é esse escrito epistolar no conjunto da
obra da escritora, isto é, qual olhar lançar sobre esses textos depois de aberto o envelope;
analisar a relação entre obra literária e as correspondências, a partir das referências nestas
expostas; e elaborar a possibilidade de as cartas encenarem uma estrutura de ficção e,
portanto, transitarem em outro lugar.
Palavras-chave: Clarice Lispector; Cartas; Obra literária; Processo de criação; Ficção.
Abstract
In the preface to All the letters, Teresa Montero points out that since the
publication of the first three books of correspondence – Letters Close to the Heart,
Correspondences, and My Darlings, “the letters [of Clarice Lispector] fulfilled an
immeasurable propulsive role”. This motivating force refers to the production of
academic works and books in which Clarice’s epistolary writings appear predominantly
as a research source of biographical data, contextual information, literary backstage, more
aligned to the document side. Without disregarding this important function of
correspondence in the composition of the writer’s life and literary work, this thesis
proposes to elaborate, based on the movement that the letters engender, another way of
reading these writings of Clarice, starting from the structure sender – message – recipient,
already established, towards the arrangement fictional voice – form – readers. This cross-
referential reading movement between work and letter, between fictional center and
margins, will also allow us to think about the tension between the genres, showing in the
letter its fictional arrangement and, in the work, its addressing dimension. In order to
follow the flow of letters and letters, dear reader, this address is worked on in three main
axes: to think what this epistolary writing is in the writer’s work as a whole, that is, what
look to take on these texts after opening the envelope; to analyze the relationship between
the literary work and the correspondence, based on the references exposed in these letters;
and to elaborate on the possibility of the letters staging a fictional structure and, therefore,
transiting somewhere else.
Keywords: Clarice Lispector; Letters; Literary work; Creation process; Fiction.
Lucía González
Título:“À margem de escrever”:
as cartas de Clarice Lispector
Orientador(a): Professora Doutora Luciana di Leone
Páginas: 183
Resumo
Nas crónicas escritas por Paulo Barreto, mais conhecido como João do Rio, é possível
observar um movimento oscilatório entre uma fascinação pela modernização e um
sentimento de nostalgia frente ao que o processo modernizador modifica de vez. A partir
de diversas tensões João do Rio propõe na sua escrita no jornal diferentes
posicionamentos e pontos de observação da cidade em constante transformação. Nesse
sentido, seus passeios pelo Rio de Janeiro, já seja caminhando ou de automóvel, dão lugar
a uma narrativização da capital brasileira de começo do século XX que se apresenta como
um contrapeso ao discurso hegemônico da época. Ao mesmo tempo que se delimita como
espaço para se autofigurar como escritor capaz de escrever a modernização. É possível
observar que estas questões se desenvolvem também em dois relatos de viagem
produzidos pelo cronista: Portugal d’agora e na coluna Viagem a Buenos Aires. Nestas
duas produções, se posicionando como um viajante intelectual, João do Rio reflexiona
sobre a modernização dos lugares que visita ao mesmo tempo que estabelece diálogos
com a realidade de Rio de Janeiro. Na estruturação destes relatos e na autofiguração de
viajante que se desprende deles, pode se observar um vinculo com o escritor nicaraguense
Rubén Dario. Nesta tese se prestará especial atenção ao dispositivo da cópia como
estratégia utilizada por João do rio, mas compartilhada com outros escritores latino-
americanos, para escrever a modernização e, por outro lado, se indagará na figura do raro
utilizada para denotar um modo particular de ler e escrever. De este modo, a presente tese
propõe uma leitura das crônicas do João do rio, tanto as dedicadas a Rio de Janeiro, quanto
as crônicas que conformam relatos de viagem, com o objetivo de analisar os modos em
que o escritor carioca se vincula com outros escritores latino-americanos, em especial
Rubén Darío.
Abstract
In the chronicles written by Paulo Barreto, better known as João do Rio, it is possible to
observe an oscillatory movement between a fascination for modernization and a feeling
of nostalgia in face of what the modernizing process changes drastically. Based upon
various tensions, João do Rio proposes in his writing on the newspaper different
positionings and points of observation of the city in constant transformation. In that
regard, his walks through Rio de Janeiro, whether on foot or by car, give place to a specific
4
narrative of the Brazilian capital at the beginning of the 20th century, which presents itself
as a counterweight to the hegemonic discourse of the time. At the same time that it is
defined as a space to self-establish as a writer capable of writing modernization. It is
possible to observe that these questions are also elaborated in two travel reports made by
the chronicler: Portugal d’agora and in the newspaper column Viagem a Buenos Aires.
In those two reports, positioning himself as an intellectual traveler, João do Rio reflects
on the modernization of the places he visits while, at the same time, establishing dialogues
with the reality of Rio de Janeiro. In the structure of these chronicles and in the self-
establishing as a traveler that detach from the reports, it is possible to see a link with the
Nicaraguan writer Rubén Dario. In this thesis, special attention will be paid to the device
of copying as a strategy used by João do Rio, but shared with other Latin American
writers, to write modernization and, on the other hand, will examine about the figure of
the rare used to denote a particular way of reading and writing. On this way, this thesis
proposes a reading of the chronicles of João do Rio, both those dedicated to Rio de Janeiro
and the chronicles that constitute travel reports, in order to analyze the ways in wish the
carioca (from Rio de Janeiro) writer links with other Latin American writers, especially
Rubén Dario.
Luciana Silva Camara da Silva
Título: NUNO RAMOS E A AUTONOMIA ARTÍSTICA: caminhos possíveis entre Adorno e Rancière
Orientador(a): Prof. Dr. João Camillo Barros de Oliveira Penna
Páginas: 312
Resumo
A presente tese dedica-se a analisar a questão da autonomia da arte nas obras visuais, plásticas
e literárias de Nuno Ramos. Para isso, adotamos o escopo teórico retirado de dois filósofos:
Theodor Adorno e Jacques Rancière. No caso de Adorno, partimos de sua investigação sobre
arte e sociedade, as aproximações e os distanciamentos entre uma e outra. O foco se restringiu
aos conceitos apresentados por ele, no ensaio inacabado Teoria Estética, a saber: forma,
material, conteúdo, autonomia e heteronomia, além de conduzir a um exame sobre a sociedade
administrada e a relação que se estabelece com a Indústria Cultural. Em Rancière nos detivemos
no conceito de emancipação observado entre espectador e obra num elo paradoxal, formulado
em O Espectador Emancipado. As obras ambíguas, múltiplas e complexas de Ramos nos fazem
pensar sobre o valor de troca das obras artísticas que se tornam outra coisa que não elas mesmas,
trazendo o previsível quando a obra autônoma e emancipada clama pelo caminho oscilante, nos
rumos acidentados do imprevisível. As possibilidades ampliam o campo da experiência artística
e mostram o quão plural a obra é, visto que ela critica o sistema vigente, mas mantém um elo
com ele, situando-se ao mesmo tempo dentro e fora, dizendo e não dizendo, numa relação que
nega, mas aproxima, vai além do proposto e choca o público. A obra é, em suma, provocadora
em si mesma. A poética em tensão que o artista-escritor nos apresenta, ao criar a partir do
impensável como arte, mesclando campos heterogêneos, tanto na zona plástica-verbal como na
visual-sonora, em um terreno movediço e fecundo, traz o desafio da pluralidade, a resistência
de ser obra, a crítica ao sistema do qual faz parte, numa relação conflituosa, própria da obra
autônoma-emancipada, que nos alfineta a todo instante.
Palavras-chave: Nuno Ramos. Theodor Adorno. Jacques Rancière. Emancipação. Autonomia
da arte. Sociedade.
Abstract
This thesis is devoted to analyzing the question of the autonomy of art in Nuno Ramos’ visual,
plastic and literary works. For this purpose, we adopted the theoretical scope from two
philosophers: Theodor Adorno and Jacques Rancière. In Adorno’s case, we took our cue from
his research on art and society, the closeness and the distances between them. The focus
restricted itself to the concepts presented by him, in the unfinished essay The Aesthetic Theory,
namely: form, material, content, autonomy and heteronomy, in addition to leading to an
examination of the administered society and the relationship established with the Cultural
Industry. In Rancière we focused on the concept of emancipation observed between spectator
and work in a paradoxical link, formulated in The Emancipated Spectator. Ramos’ ambiguous,
multiple and complex works make us question the exchange value of artistic works that become
something other than themselves, bringing the predictable when the autonomous and
emancipated work cries out for the oscillating path, in the rugged paths of the unpredictable.
The possibilities expand the field of artistic experience and show how plural the work is, since
it criticizes the establishment, while maintaining a link with it, placing itself at the same time
inside and outside, saying and not saying, denying while it approaches, goes beyond what is
proposed and shocks the public. The works is, then, provocative in itself. The poetics in tension
that the artist-writer presents us, creating from the unthinkable as art, mixing heterogeneous
fields, both in the plastic-verbal and visual-sound zones, in a moving and fertile terrain, brings
the challenge of plurality, the resistance of being a work, the criticism of the system of which
it is part, in a conflicting relationship, typical of the autonomous-emancipated work, which
pricks us at every moment.
Keywords: Nuno Ramos. Theodor Adorno. Jacques Rancière. Emancipation. Autonomy of art.
Society
Luis Otávio Hott
Título: A arte da detecção: Forma social na ficção de detetive de Edgar Allan Poe, Raymond Chandler e Thomas Pynchon
Orientador(a): Profa. Dra. Danielle dos Santos Corpas
Páginas: 280
Resumo
O objetivo deste estudo é a construção de uma poética do gênero detetivesco, resgatando-o do status de subgênero literário e reconhecendo-o como forma literária relevante na cultura da civilização ocidental há quase duas centenas de anos. A estética deste gênero evoluiu como uma modalidade de literatura socialmente simbólica, cuja função não é apenas o entretenimento próprio da cultura de massa, mas, também, a representação de ansiedades que emergem juntamente às transformações sociais. Com a leitura de obras de Edgar Allan Poe, Raymond Chandler e Thomas Pynchon podemos observar o paradigma da ficção de detetive em diferentes estágios literários e histórico-sociais: primeiro, a emergência do gênero no final do século XIX, seu desdobramento em outros gêneros na primeira metade do século XX e, na pós-modernidade, o surgimento da ficção de antidetetive. Desta forma, pretendemos traçar um panorama crítico da história da ficção de detetive, procurando interpretar como o desenvolvimento deste tipo de ficção se relaciona com o desenvolvimento da sociedade capitalista.
Palavras-chave: Ficção de detective; Literatura norte-americana; Modernidade; Pós-
modernidade.
Abstract
This thesis aims to construct a poetics of the detective genre, rescuing it from the status of
literary subgenre and recognizing it as a relevant literary form in the culture of Western
civilization for almost two hundred years. The aesthetics of this genre has evolved as a form of
a socially symbolic literature, which function is not only the entertainment of mass culture, but
also the representation of anxieties that emerge together with social transformations. By
reading the works of Edgar Allan Poe, Raymond Chandler and Thomas Pynchon we can
observe the paradigm of the detective fiction in different literary and social-historical stages:
first, the emergence of the genre at the end of the 19th Century, its unfolding into other
subgenres in the first half of the 20th Century and in the emergence of the anti-detective fiction
in the Postmodernity. Consequently, we intend to outline a critical overview of the history of
the detective fiction, seeking to interpret how the development of this type of fiction relates to
the development of capitalist society.
Keywords: Detective fiction; North American Literature; Modernity; Postmodernity.
Marcos Antonio de Azevedo Monteiro
Título: O avesso do progresso: as crônicas de alta tensão crítica de Lima Barreto
Orientador(a): André Luiz de Lima Bueno
Páginas: 268
Resumo
Esta Tese situa as crônicas do escritor e jornalista Lima Barreto como desveladoras do ideário do progresso, no seu avesso, no Rio de Janeiro do início do século XX, e desnuda o arco de influência da mitologia progressista, militar e capitalista, que afetou o universo simbólico da vida brasileira. Dispõe as crônicas de Barreto, como parte de um projeto literário e ideológico que envolveu a política, a economia e a cultura, na Primeira República. As crônicas, entendidas como de alta tensão crítica, abarcam a experiência literária urbana e humanizadora do cotidiano, e o seu avanço no campo da síntese textual, da mistura de elementos de outras áreas como a poesia, a carta, a entrevista e a memória. Isto porque envolvem a narrativa de tom ensaístico, a dinâmica de conceitos, humor cortante e transbordam na revelação do novo regime como a “república dos pés descalços”, que imprimiu uma nova ordem e regimentação impondo a naturalização de seus valores.
Palavras-chave: avesso do progresso, Lima Barreto, crônica, crítica, república.
Abstract
This Thesis situates the chronicles of the Writer and Journalist Lima Barreto as
unveiling the ideas progress, insed out in Rio de Janeiro at the beginning of the
20th century, and exposes the arc of influence of progressive, military and capitalist
mythology, which affected the universe symbolic of Brazilian life. Displays Barreto‘s
chronicles, as part of a literary and ideological project that involved politics,
economics and culture, in the First Republic. The chronicles, understood as high
critical tension, encompass the urban and humanizing literary experience of
everyday life, and its progress in the field of textual synthesis, mixing elements from
other areas such as poetry, letters, interviews and memory. This is because they
involve the narrative of an essayistic tone, the dynamics of concepts, sharp humor,
and overflow in the revelation of the new regime as the ―republic of bare feet‖, which
printed a new order and regimentation, imposing the naturalization of its values.
Keywords: reverse of progress, Lima Barreto, chronicle, criticism, republic.
Marlon Augusto Barbosa
Título: DESVIOS NA CRÍTICA Roland Barthes e Georges Didi-Huberman leitores de Honoré de Balzac
Orientador(a): Profa. Dra. Flavia Trocoli Xavier da Silva
Páginas: 204
Resumo
A proposta da tese é criar uma condição de legibilidade para o fato de que tanto Roland Barthes como Georges Didi-Huberman, cada um ao seu modo, estabeleceram inúmeras crises no discurso crítico-teórico hegemônico, assumindo muitas vezes uma posição crítica diante de seus próprios discursos. Poderíamos dizer que nos dois livros escolhidos para análise – a saber: S/Z (1970) e A pintura encarnada (1985), cada um deles girando em torno da leitura de uma novela de Honoré de Balzac, “Sarrasine” (de 1830) e “A obra-prima desconhecida” (de 1837) –, essa crise poderia ter sido mediada pela questão da representação literária. Isso significaria que uma problematização do referente na literatura, nos dois casos, poderia também apontar para uma problematização do referente na crítica. Isto é: essa crise figuraria como o questionamento de um modelo a ser seguido e a destituição de um mestre que estaria regendo a cena crítica. Algumas perguntas poderiam ser fundamentais: quais seriam os meios apresentados por Roland Barthes e Georges Didi-Huberman para explodir uma voz que se reivindica como única? Como cada um desses autores se debruça sobre essas novelas – como eles leem, analisam e quais as possíveis consequências dessas análises?
Palavras-chave: Honoré de Balzac 1. Roland Barthes 2. Georges Didi-Huberman 3. S/Z 4. A pintura encarnada 5. Crítica Literária 6.
Résumé
Le projet de thèse est de créer une possibilité de lisibilité au fait que Roland Barthes autant que Georges Didi-Huberman ont établi, chacun à sa manière, plusieurs états de crises dans le discours théorico-critique dominant, ayant au même temps une position critique à l’égard de leurs propres discours. On pourrait même affirmer qu’au cœur des deux œuvres choisies pour faire l’analyse – à savoir : S/Z (1970) et La peinture incarnée (1985), chacune étant développée à partir d’une nouvelle d’Honoré de Balzac, respectivement, « Sarrasine » (de 1830) et « Le Chef-d’œuvre inconnu » (de 1837) –, cette crise pourrait avoir été médiée par la question de la représentation littéraire. Ce qui voudrait dire que, dans les deux cas, une problématisation du référent dans la littérature pourrait aussi suggérer une problématisation du référent dans la critique. C’est-à-dire : cette crise serait une figure de la mise en question d’un modèle à suivre et de la destitution d’un maître potentielle qui gérerait la scène critique. Quelques questions principales et essentielles pourraient être déjà mises en évidence : quels seraient les moyens proposés par Roland Barthes et Georges Didi Huberman pour exploser une voix qui prétend être l’unique voix de la critique? Comment chacun de ces auteurs se penche sur les nouvelles – comment ils les lisent, les analysent, et quelles sont les conséquences possibles de ces analyses?
Mots-clés: Honoré de Balzac 1. Roland Barthes 2. Georges Didi-Huberman 3. S/Z 4. La peintura incarnée 5. Critique littéraire
Pedro Alegre Pina Galvão
Título: Machado de Assis – literatura e história;
Orientador(a): Prof. Dr. Marco Lucchesi
Páginas: 311
Resumo
A obra de Machado de Assis se tornou, no decorrer das leituras críticas, o ponto nervoso para onde convergem os debates sobre o destino da cultura brasileira, a história e a vida social. Esta tese procura reabrir a discussão em torno da relação da obra machadiana com a história em um duplo movimento. Por um lado, pretende-se reler alguns contos e romances de Machado, buscando repensar as relações entre literatura, história e vida social; de outro lado, coloca-se em destaque o modo como a crítica pôde, a partir da leitura do autor, estabelecer esta relação, procurando revelar aspectos históricos e sociais contidos na obra literária. Dessa forma, a releitura dos textos machadianos é inseparável das leituras críticas anteriores, que consolidaram modos, interpretações e alguns pressupostos, que importa revisitar criticamente. Assim, interessa se deter sobre como e o que, em uma obra literária como a de Machado de Assis, é possível dar a ver uma discussão sobre a história. Parte-se do princípio de que, na obra machadiana, certa noção de história e a ideia de escrita são elementos combinados. Além disso, sua literatura promove uma desconexão com a história e os discursos historiográficos, de modo a suspender a identidade, imediatas e mediatas, entre eles, reconfigurando o que se entende pelos fatos da história, o fato de se escrever a história e a arte literária de contar uma história.
Palavras-chave: Machado de Assis. 2. Romance brasileiro. 3. História 4. Estética e política. 5. Ficção moderna.
Renata da Costa Netto Estrella
Título: A história da minha vida não existe: a escrita da memória em Marguerite Duras
Orientador(a): Profa. Dra. Flavia Trocoli Xavier da Silva
Páginas: 119
Resumo
Sendo memória e esquecimento questões não apenas recorrentes na obra de Marguerite Duras, como por vezes associadas por ela ao trabalho de escrever, esta tese se pergunta sobre as relações entre a escrita e a memória a partir da leitura de três obras que apesar de referenciadas a momentos diversos da carreira de Duras e, ainda, apesar de cada uma possuir um estilo próprio, são obras em que pode-se dizer que a escritora narra as mesmas
‘memórias’: Uma barragem contra o Pacífico (1950), O amante (1984) e O amante da China do Norte (1991). Discutimos, assim, as diferentes formas estéticas que respondem a diferentes suportes de memória, identificando que, ao reescrever, Duras reduz ao máximo os elementos da narrativa, o que revela uma separação entre as lembranças, que se encadeiam em discurso, mais ligadas ao tempo cronológico, e algo que resta fora de discurso e insiste, independente da passagem do tempo, o que aproximamos de uma memória de gozo, a partir do ensino de Jacques Lacan. Das análises, se extrai exatamente
o ‘escrever’, uma maneira de fazer com isso, o que compõe uma teoria sobre a escrita em Marguerite Duras.
Palavras-chave: Marguerite Duras, Psicanálise, Escrita, Memória, Letra, Gozo
Abstract
La mémoire et l’oubli étant des problématiques, non seulement récurrentes dans l’œuvre de Marguerite Duras mais parfois également associées au travail d’écriture, cette thèse interroge le rapport entre l’écriture et la mémoire, à partir de la lecture de trois œuvres qui bien qu’elles soient référencées à différents moments de la carrière de Duras et même si chacune a son propre style, sont des œuvres dans lesquelles on peut dire que l’écrivaine raconte les mêmes « mémoires » : Un barrage contre le Pacifique (1950), L’amant (1984) et L’amant de la Chine du Nord (1991). Ainsi, nous discutons des différentes formes
esthétiques qui répondent à différents supports de mémoire, en identifiant que lors de la réécriture, Duras réduit autant que possible les éléments du récit, ce qui révèle une séparation entre les souvenirs qui sont enchaînés dans le discours et quelque chose qui reste hors discours et perdure indépendamment du passage du temps. C’est ce que l’on rapproche d’une mémoire de la jouissance, à partir de l’enseignement de Jacques Lacan. Des analyses, c’est exactement l’« écrire » qui est extraite, une manière de « faire avec » qui constitue une théorie de l’écriture chez Marguerite Duras.
Keywords: Marguerite Duras, Psychanalyse, Écriture, Mémoire, Lettre, Jouissance.
Raoni Schimitt Huapaya
Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo Guerreiro Brito Losso
Páginas: 181
Resumo
Esta tese problematiza os efeitos do diálogo entre a linguagem literária das crônicas de Lima Barreto (1881 – 1922) e a experiência urbana no Rio de Janeiro durante o início dos 1900. Para isso, partimos da perspectiva crítica acumulada de que o cronista considerou em seus escritos um cuidado com o aspecto comunicativo da sua literatura ao alargar estilisticamente o círculo potencial de seus leitores, sem abandonar, contudo, a densidade técnica de sua expressão literária. Consideramos, igualmente, a reelaboração que o autor realiza de recursos do jornalismo e o manejo das técnicas de imagem como formas que assumiram o diálogo entre a técnica literária do autor e a realidade das grandes cidades no início do século XX.
Assim, defendendo que a crônica de Lima Barreto se abriu a novos padrões de experiência, construímos um eixo teórico que problematiza a cidade e as diversas alterações vividas na percepção como fundamentos para experiência moderna. Em especial, aprofundamos de maneira complementar esta relação entre a literatura do cronista e os novos padrões perceptivos da cidade com a ideia de desenvolvimento das mídias e a sua estruturação histórica para afetar os sentidos de um corpo num novo regime global de atenção em curso nas grandes cidades modernas.
Palavras-chave: Lima Barreto, crônica, sensação, percepção, experiência urbana.
Abstract
This thesis problematizes the effects of the dialogue between the literary languages of the chronicles of Lima Barreto (1881 -1992) and the urban experience in Rio de Janeiro during the beginning of the 1900’s. In this regard, we assume the critical accumulated that the chronist considered in its writing a care with the communicative aspect of his litterature stylistically extending his potential readers circle and, notwithstanding, without leaving the technical density of his literary expression. We have considered, similarly, the reexecution that the author elaborates of his newspaper’s resources and the managing of the images technics that disaumotize the reader’s sight as forms that assume the dialogue between the literary technique and the reality of the great cities of the 20th century. Hence, defending that the Lima Barreto’s chronicles have opened itself to new experience standards, we have built a theoretical axle that problematizes the city and the several changes occured in the perception as fundament to the modern experience. In especial, we have improved, as a complementary tool, the relation between the literature of the chronicler and the new perception standards of the city with the idea of media development and its historical structuration to affect the senses of a body as a new global regime of warning in curse on the great modern cities.
Keywords: Lima Barreto, chronicles, sensations, perception, urban experience.