dissertações
Quadriênio 2016 - 2013Total de dissertações defendidas: 41
DISSERTAÇÕES DEFENDIDAS EM 2016
Total de dissertações defendidas: 12
Adonis Nóbrega da Silva
Título: A poesia de dentro da noite veloz
Orientador(a): Prof. Dr. Luis Alberto N. Alves
Páginas: 78
Resumo
Este trabalho busca entender o livro Dentro da noite veloz sublinhando a vocação pública e polêmica de Ferreira Gullar, que assinala uma combatividade sem a qual não se compreendem suas escolhas nem o seu desenvolvimento como artista. O ponto de partida para tanto foi o ensaio “Traduzir-se” de João Luiz Lafetá, cuja leitura é fundamental para o entendimento dos caminhos percorridos neste trabalho, pois sua abordagem influenciou boa parte da crítica subsequente e foi peça de constante diálogo ao longo deste texto. Como a tarefa crítica muitas vezes envolve o ato fundamental de apontar a diferença entre intenção, projeto e realização, a leitura dos poemas foi feita a partir de comparações, revelando as implicações de certas escolhas no uso de estilos alternativos. Estes provocam o confronto entre aspectos literários, críticos, teóricos e existenciais em um âmbito menos compartimentado e realmente vivo, onde a grandeza das posições históricas do autor pode ser avaliada pelo relevo de seus antagonismos. No entanto, a criativa retomada do modernismo e a exigência de modernização deram forma a uma composição nem sempre bem resolvida, e o saldo positivo da poesia de Gullar muito deve à sua adoção de uma formulação menos rígida e mais flexível – em um evidente embate contra a cobrança da mensagem urgente –, a forma dos seus melhores poemas, sua estética.
Beatriz dos Santos Oliveira
Título: A MULHER DE BATH NOS CONTOS DE CANTUÁRIA: reflexões sobre o feminino e o controle do corpo no medievo e seus ecos na contemporaneidade.
Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo de Faria Coutinho
Coorientador(a): Prof(a). Dr(a). Mônica Amim
Páginas: 68
Resumo
A partir da reflexão crítica acerca do legado sociocultural que a Idade Média nos deixou, presente nas falas dos diversos estratos sociais contidos no conjunto de narrativas escritas por Geoffrey Chaucer e denominado Os Contos de Cantuária, este trabalho tem como objetivo discutir a influência dos textos medievais (sejam literários ou históricos) na perpetuação de alguns comportamentos e práticas excludentes na sociedade pós-moderna, especialmente no que tange às mulheres. Para tanto, alguns exemplos do pensamento intelectual medieval sobre o feminino serão fundamentais para nossa reflexão. Tendo em vista que muitas dessas obras literárias vêm sendo recriadas e recontadas através dos séculos, pretendemos analisar em nosso trabalho como uma das narrativas de Chaucer, o prólogo do Conto da Mulher de Bath, é readaptado nos séculos XX e XXI pela televisão e pelo cinema. Além disso, procuraremos refletir principalmente sobre a recriação da personagem-título e como a partir dela e das formulações de teóricos da literatura, dos estudos culturais e historiadores podemos pensar em questões ligadas à independência feminina sobre seu corpo e ao estudo de gênero.
Danielle Henrique Magalhães
Título: O fim, o começo, o fora do tempo na poesia expressionista alemã
Orientador(a): Prof. Dr. Alberto Pucheu Neto
Páginas: 135
Resumo
Esta dissertação discorre sobre a modernidade na Alemanha a partir da poesia expressionista alemã, tomando como recorte os primeiros anos do século XX, até o marco da Primeira Guerra Mundial. Objetiva-se problematizar a concepção de tempo, levando em conta a confluência das tradições cristã e judaica em tensão com a nova percepção de tempo que passa a assolar os sujeitos com o advento do mundo moderno, com o tempo do futuro orientado para o progresso, para novo. Pensadores que incidiram críticas à modernidade e à tradição ocidental, como Walter Benjamin, Michael Löwy, Giorgio Agamben, Antoine Compagnon, Hannah Arendt, Theodor Adorno, Martin Heidegger, constituirão parte do arcabouço teórico nas análises. Neste tempo de cisões, Georg Trakl canta um mundo perdido, Else Lasker-Schüler e Jakob Van Hoddis anunciam o Fim do Mundo, Nietzsche já havia pronunciado a morte de Deus e Hegel já teria dito sobre o fim da Arte e o fim da História. Todavia, as ideias de fim não apontam todas para um mesmo sentido. Sendo assim, diferentes interpretações serão apresentadas com o propósito de não eliminar a complexidade da compreensão. Uma leitura otimista enxerga o crepuscular de Trakl como o tempo mais cedo. Por outro lado, seria difícil ver com algum otimismo todas essas entonações de fim. Talvez, neste terreno ocidental de desterrados, haja outros apartados que já se colocam fora do tempo.
Fabrício de Araújo Cesar Gonçalves
Título: O Louco de Deus e o Anjo da História: Surrealismo, Mística, Tempo Messiânico e Escatologia em Murilo Mendes
Orientador(a): Prof. Dr. Marco Lucchesi
Páginas: 117
Resumo
Esta dissertação procura estudar como os temas do surrealismo, da mística, do tempo messiânico e da escatologia se articulam na poesia de Murilo Mendes, tornando sua obra um dos mais contundentes e profundos testemunhos do momento histórico em que foi produzida. Na obra do poeta é possível encontrar uma constante tensão entre o tempo profano, histórico, e o tempo sagrado ou mítico. Contudo, essas duas dimensões temporais se revelam enquanto face e contraface de uma concepção dialética da realidade humana e de seu processo social e histórico. Com isso, pretende-se demonstrar que Murilo Mendes foi uma das mais importantes vozes da poesia brasileira no século XX.
Fernanda dos Santos Silveira Moreira
Orientador(a): Prof.(a) Dr.(a) Teresa Cristina Meireles de Oliveira
Co-Orientador(a): Prof. Dr. Leopoldo Osório Carvalho de Oliveira
Páginas: 158
Resumo
A presente dissertação tem como objetivo analisar as representações da cidade de
Jerusalém na literatura israelense e na literatura brasileira de temática judaica, após a
criação do Estado de Israel. Para tal fim, foram escolhidos dois romances: Os
Voluntários, 1979, do escritor judeu brasileiro, Moacyr Scliar, e Meu Michel, 1968, do
escritor judeu israelense Amós Oz. A cidade de Jerusalém é um dos mais significativos
símbolos da religião e cultura judaica, e sempre esteve no centro da representação de
uma terra ancestral, em particular para as comunidades da diáspora, que para ela sempre
se voltaram em orações e preces. Com a efetivação de um lar nacional judeu no final da
primeira metade do século XX, viver em Jerusalém tornou-se uma opção para milhares
de judeus diaspóricos, mas as demandas da cidade real se confrontaram com a imagem
utópica que seu nome evocara nos últimos dois milênios. Tendo sido palco de inúmeros
conflitos ao longo de sua história, Jerusalém está ainda hoje no centro de reivindicações
religiosas e políticas de judeus e palestinos, sem deixar de ocupar o imaginário de
pessoas das três maiores religiões monoteístas. A fim de compreender como se
caracterizam os vínculos de diferentes grupos judaicos, pelo viés da literatura, foram
analisadas as obras de dois importantes escritores judeus, que foram contemporâneos,
mas que escreveram sob diferentes perspectivas: a do judeu da diáspora e a do judeu
nascido em Israel. Suas obras descortinam importantes aspectos sociais e políticos que
envolvem a cidade jerosolimita e apontam para as multiformes maneiras de se
relacionar com um espaço sagrado milenar diante dos novos rumos traçados durante o
século XX.
Palavras-chave: Literatura, Jerusalém, Moacyr Scliar, Amós Oz.
Abstract
This thesis aims at analyzing the representations of Jerusalem city in both Israeli and
Brazilian literature, which presented a Jewish theme, after the State of Israel had been
created. In order to do so, two novels were chosen: Os Voluntários “The Volunteers”,
written in 1979 by the Brazilian Jewish writer Moacyr Scliar, and Meu Michel “My
Michael”, written in 1968 by Amós Oz, a Israeli Jewish writer. Jerusalem is one the
most meaningful symbols of the Jewish culture and religion. It was once located in the
center of the representation of an ancient land, mainly to the diaspora communities that
have always faced it for prayers. After the establishment of a national Jewish home in
the first half of the twentieth century, living in Jerusalem became an option for millions
of diasporic Jews. The demands of the real city were opposed, however, to the utopian
idea that its name had evoked in the past two millennia. Despite the fact that countless
conflicts have taken place there, the city is still the cause of political and religious
claims between Jews and Palestinians. The city is also present in the minds of the three
most monotheistic religions. In order to understand how the bonds between different
Jewish peoples have been established, through literature, two works written by
important Jewish writers were analyzed. Although both writers were contemporaries,
they wrote from two distinct perspectives: the angle of the Jew from the diaspora, and
the view from the Jew who was born in Israel. Their works unveil important social and
political aspects regarding Jerusalem besides showing different ways to interact with a
sacred place that has lasted for millennia and that experienced new paths in the
twentieth century.
Keywords: Literature, Jerusalem, Moacyr Scliar, Amós Oz.
Gleyson Dias de Oliveira
Título: O homem em sua configuração: o ser que compreende, interpreta e age
Orientador(a): Prof. Dr. Manuel Antônio de Castro
Páginas: 81
Resumo
Esta dissertação ocupa-se com a atividade humana e sua relação com algumas áreas de estudos como a antropologia, história e literatura. Estudamos o homem com sua identidade deslizante e na sua carência por uma interpretação de si mesmo e de como importa estar baseado na tradição como ponto de partida para toda e qualquer busca de legitimação da compreensão e interpretação. Quando nos estudos da cultura temos lacunas que não podem ser preenchidas pelas outras áreas, antropologia, história, abrese espaço para a literatura e será no espaço ficcional que poderemos ativar o imaginário. Ele buscará ressignificar os silêncios da história, bem será uma nova abertura para pensarmos a relação do Eu com o Outro. A história avança e a sua interpretação também; o documento histórico mudou, as fontes históricas mudaram também. Quem se apropria da nova documentação histórica dirige-se para esta nova documentação com um outro olhar, e a epistême implicada neste processo muda a luta individualizada. A pós-modernidade aparece nesta nova zona de mudanças e apresenta uma nova via para tratarmos dos temas da ética, não mais na busca por um fundamento ético universal, mas uma ética a ser pensada e aplicada no contexto.
Luciana Silva Camara da Silva
Título: A poética do (in)visível em Junco, de Nuno Ramos
Orientador(a): Prof. Dr. João Camillo Barros de Oliveira Penna
Páginas: 152
Resumo
A presente dissertação dedica-se a estudar a inter-relação artística entre poesia e fotografia, com base na obra de Nuno Ramos, intitulada Junco (2011). Trata-se de uma obra ousada em que se conjugam fotos de cachorros e troncos mortos que reinscrevem a temática que permeia a sua obra: a transformação da matéria animal e vegetal em diferentes formas. Entende-se que a sagacidade visual e literária do artista-poeta se combina e mistura-se de tal modo originando uma poética reflexiva única constituída de elementos tradicionalmente esquecidos, agora transformados em arte. Por isso, esta pesquisa investe no estudo de ambas as linguagens concebidas como poéticas. Cumpre acrescentar que o diálogo entre poesia e fotografia, além de ser examinado segundo os conceitos de studium e punctum estabelecidos por Roland Barthes, em A câmara clara, recorre ainda a uma convergência teórica entre Georges Bataille, Georges Didi-Huberman, Henri Focillon, Jacques Rancière, Jean-Luc Nancy, Maurice Blanchot, Octavio Paz, Rosalind Krauss, Susan Sontag e Walter Benjamin.
Marianna Guimarães Alves
Título: Palavras sobreviventes: o protagonismo indígena na literatura contemporânea no Brasil
Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo de Faria Coutinho
Páginas: 112
Resumo
Este trabalho tem como principal objetivo analisar e propagar algumas das palavras indígenas registradas de forma escrita na contemporaneidade brasileira. Tendo em vista não somente o aspecto sobrevivente dos remanescentes dos primeiros povos, como também de suas diversidades e de suas atuações enquanto sujeitos de seu próprio discurso, esta pesquisa pretende, associada aos textos selecionados, desconstruir a ideia de integração e assimilação dos povos indígenas ao padrão social nacional e mostrar que a tradição e a cultura indígenas permanecem fortalecidas mesmo quando manifestadas através dos códigos de comunicação dominantes. Além disso, nossa pretensão é mostrar que os textos escritos atualmente por indígenas de diversas etnias do atual território brasileiro simbolizam uma luta identitária, visando o respeito pela diversidade e a melhoria da sociedade não indígena. Para tanto, utilizaremos como principais bases argumentativas os livros de Olívio Jekupé, Daniel Munduruku, Eliane Potiguara e Graça Graúna, defendendo que “as palavras indígenas sempre existiram” e que a escrita é apenas uma forma de difundi-las.
Mário da Silva Santos Neto
Título: A Representação de uma Comunidade Amazônica em Ribanceira de Daldício Jurandir
Orientador(a): Prof. Dr. Ricardo Pinto de Souza
Páginas: 112
Resumo
Esta dissertação estuda a representação de uma comunidade amazônica no romance Ribanceira, de Dalcídio Jurandir. Volta-se à produção romanesca do escritor, mais especialmente, ao seu projeto literário “Extremo Norte” com o objetivo de investigar como Ribanceira, último romance da série, se integra e encerra a saga de Alfredo. Analisa o desenvolvimento inicial dessa série, focalizando as circunstâncias da publicação de seus três primeiros romances, e, com isso, objetiva compreender como o projeto literário do escritor foi concretizado em seu início e em seu fim, no intuito de verificar as coerências e/ou rupturas no aspecto composicional-técnico dos romances, principalmente no que se refere à estrutura complexa da narrativa. Compara, ainda, Ribanceira com o estudo antropológico de Charles Wagley, Amazon town. A study of man in the tropics, por este oferecer uma representação da mesma comunidade presente no romance. O corpus da pesquisa baseia-se, por um lado, no levantamento realizado junto à Fundação Casa de Rui Barbosa, sediada no Rio de Janeiro, onde foram recolhidas críticas e outros textos sobre o projeto literário do escritor marajoara e a recepção do romance enfocado; por outro, nas anotações do Gurupa Project, incluídas nos Charles Wagley’s papers, disponíveis no sítio da Biblioteca “George A. Smathers”, da Universidade da Flórida (EUA).
Palmireno Couto Moreira Neto
Título: A cidade e o homem: Borges, Invasión e o sonho de Aquiles
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Danielle Corpas
Páginas: 121
Resumo
“Invasión é a lenda de uma cidade, imaginária ou real, sitiada por fortes inimigos e defendida por uns quantos homens, que talvez nem sejam heróis. Lutam até o fim, sem suspeitar que sua batalha é infinita.” Essa sinopse, escrita por Jorge Luis Borges, apresenta Invasión, filme cujo roteiro foi escrito por Borges e Hugo Santiago. Lançada em 1969, a obra exibe as ações de um grupo que tenta impedir uma invasão estrangeira. Entretanto, mais do que um simples ato de resistência, a defesa da terra natal expõe valores individuais e coletivos e mobiliza os homens na construção de um ideal de cidade. Para compreender alguns aspectos do enredo e da trajetória dos personagens principais do filme, a interpretação elaborada neste ensaio recorre ao imaginário sobre cidade, homem e coragem presente na obra de Borges.
Simone Silva de Paula
Título: Cidade fera: quem poderá olhar-te nos olhos?
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Beatriz Vieira de Resende
Páginas: 85
Resumo
O trabalho propõe um diálogo com os corpus literários Eles eram muitos cavalos (2013) e Domingos sem Deus (2011), escritos por Luiz Ruffato, intérprete da Literatura Brasileira do presente século. Nas narrativas encontramos cidades como Rodeiro, São Paulo, Rio de Janeiro e Cataguases. No entanto, não utilizei como estratégia a abordagem clássica da representação das cidades. E sim, pensar tais espaços enquanto ocupação ficcional multiperspectiva da memória. Uma vez que reconhecemos nestes espaços os múltiplos sentidos, adotei como hipótese norteadora da pesquisa, não apenas a representação de espaços locais, e sim, a imaginação dos vestígios da cidade fera: o consumo, a falta de esperança e o trágico pós-moderno.
A dissertação dialoga com os anônimos do romance Eles eram muitos cavalos e com os nomeados: Mirim, Guto, Carlos, Sandra, Dona Nica presentes em Domingos sem Deus. Estes, alcançados pelos pedaços das cidades, perdem-se de si mesmo e uns dos outros. Deparam-se com destinos diferentes dos sonhados nos primórdios de suas vidas. A visibilidade que tais personagens ganham na narrativa dialoga com a partilha do sensível, termo cunhado pelo filósofo Jacques Rancière.
Convido para o debate teórico outros pensadores como Beatriz Sarlo, Boris Groys, Massimo Canevacci, Michel Maffesoli, Nestor Canclini e Zigmunt Bauaman.
Rogério Pires Amorim
Título: Pássaro da manhã: um estudo sobre a poética de Orides Fontela
Orientador(a): Prof. Dr. Marco Americo Lucchesi
Páginas: 94
Resumo
Uma leitura da poética de Orides Fontela e a tentativa de captar o espírito do conjunto da obra da poeta. Por um lado, são elencados autores que na nossa perspectiva elucidarão a obra da autora. Por outro, tudo o que está em sua obra e que implica sobre sua própria trajetória.
DISSERTAÇÕES DEFENDIDAS EM 2015
Total de dissertações defendidas: 8
Daniel Moutinho Souza
Título: Mentiras sinceras: realidades e identidades nas metaficções A audácia dessa mulher e Cordilheira
Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo de Faria Coutinho
Páginas: 132
Resumo
O homem criou a linguagem para falar sobre o mundo; a metalinguagem, para falar sobre a linguagem; e a ficção, para criar outros mundos. Quando estas duas últimas se reúnem, configurando a metaficção, um paradoxo se instaura, pois os limites entre a ficção e a realidade se confundem. Esse processo, observado desde a origem do romance como gênero narrativo, tem se intensificado com inovações nas estratégias metaficcionais na contemporaneidade, sobretudo na medida em que a filosofia da linguagem e a linguística passaram a considerar como fundamento da linguagem não a representação do mundo, mas sim a sua própria criação. Ao atribuir à linguagem cotidiana o mesmo caráter de criar realidade que possui a ficção, o paradoxo se aprofunda. Este trabalho tem como objetivo analisar e comparar a estrutura metaficcional de dois romances publicados recentemente no Brasil: A audácia dessa mulher, de Ana Maria Machado (1999), e Cordilheira, de Daniel Galera (2008). Ademais, ambas as obras tematizam relações de gênero e representações do feminino – a primeira delas escrita por uma mulher, a outra por um homem (mas com narradora feminina). Em vista disso, discute-se também como as identidades femininas são abordadas em cada um dos romances.
Eduardo de Almeida Santos
Título: A narrativa como dispositivo: a interferência da palavra na disputa da existência em certos territórios do Rio de Janeiro
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Beatriz Resende
Páginas: 123
Resumo
O presente trabalho trata das questões relativas principalmente dos dramaturgos de periferias e as relações estabelecidas em sua produção e vivência. Analisando historicamente as noções de comunidade, favela e território e obras e histórias do Teatro na Laje, Nós do Morro, Apalpe e Última Estação, tendo como foco a obra Oh Menino, deste último grupo.
Heyk Pimenta
Título: Animalidade, morte e invenção na obra literária de Nuno Ramos
Orientador(a): Prof. Dr. Alberto Pucheu
Páginas: 119
Resumo
Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Letras (Ciência da Literatura) da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Letras. Área de concentração: Ciência da Literatura. Sub- área: Poética.
João Guilherme Siqueira Paiva
Título: Drummond e a poesia do pós-guerra
Orientador(a): Prof. Dr. Ronaldo Lima Lins
Páginas: 185
Resumo
Esta dissertação tenta reconstruir o cenário da poesia no pósguerra para colocar em seu centro o livro Claro enigma (1951) de Carlos Drummond de Andrade. Poetas como Paul Celan, W. H. Auden, Francis Ponge e Czesław Miłosz são estudados sob a ótica de uma crise que teria se aberto, no estatuto da poesia do ocidente, a partir do novo modo de vida posterior a 1945. De um lado trabalharemos as origens dos problemas, que remontam ao século XIX. De outro, tudo aquilo que esta obra de Drummond implica sobre o seu próprio tempo e a trajetória do poeta.
Juliana Caetano da Cunha
Título: Paulo Leminski e a subversão poética
Orientador(a): Prof. Dr. Ronaldo Lima Linso
Páginas: 182
Resumo
Esta dissertação analisa a poética de Paulo Leminski; sobretudo, suas obras de poesia. Abordamos o trabalho do autor em relação à linguagem e a relação disto com a perspectiva modernista e o processo de transformação que a literatura e a arte de modo geral sofreram no século XX, quando os recursos expressivos e possibilidades estéticas foram levados a extremos, ganhando finalmente em diversidade, o que chamamos de “extensão das formas”. Fundamentamos nossa pesquisa em formulações apresentados por Barthes, Kosik, Valéry, Benjamin, Candido, entre outros, sempre discutindo literatura e sociedade dialeticamente. Leminski acaba por mostrar-se conjugador de subversão poética e social, imprimindo sua marca na literatura brasileira.
Pedro Alegre Pina Galvão
Título: A ética negativa: ensaio sobre o homem sem qualidades
Orientador(a): Prof. Dr. Ronaldo Lima Lins
Páginas: 448
Resumo
Esta dissertação parte do romance incompleto, O homem sem qualidades, de Robert Musil, para percorrer alguns temas da modernidade, de maneira que coloque em questão a condição de uma época na qual é possível a existência de um homem sem qualquer particularidade. Diante da personagem de Musil, pretende-se um ensaio que pense o percurso da época moderna em sua crise constante que levou ao declínio de todos os valores da civilização. O niilismo europeu culminou, no início do século XX, como uma crise política e social sem precedentes, da qual ainda não saímos. O que o homem sem qualidades nos revela do problema da época e o que nos aponta como solução são o objetivo desta dissertação. Todos os autores, textos e temas percorridos, como tentativa de situar uma exposição panorâmica, convergem para a ideia de uma “ética negativa”, que dá nome ao trabalho. Essa ética é a possibilidade a que, como uma aposta, se almeja entrever.
Renata de Souza Portella Oliveira
Título: Ficções (auto)biográficas: uma análise de Carcereiros e Memórias de um sobrevivente
Orientador(a): Prof. Dr. Marco Américo Lucchesi
Páginas: 104
Resumo
O presente trabalho discute a presença de processos de construção próprios da ficção na obra Carcereiros, de Drauzio Varella (2012) e Memórias de um sobrevivente, de Luiz Alberto Mendes (2001). Sua importância justifica-se pela abordagem de questões que envolvem os estudos da ficcionalidade, tais como a dicotomia real-ficcional, o estatuto de ficção e não ficção, bem como a classificação de gênero e a identidade entre autor, narrador e personagem em relatos memorialísticos. Discute-se, ao longo do texto, a presença de gêneros diversos nas obras, classificadas como autobiográficas, e a presença do ficcional, desde a utilização de recursos estilísticos, passando pela multiplicidade do sujeito, até chegar a questões que envolvem a figura autor. A partir do corpus da investigação, objetiva-se analisar as peculiaridades do texto ficcional (erroneamente tomado como falso, mentiroso, inventivo) e dos textos memorialísticos, de estatuto não ficcional (em geral, associado à verdade, à realidade, à exatidão), para verificar em que medida realidade e ficção não só dialogam, mas coexistem e se confundem na diferentes esferas da ação humana, inclusive na narrativa. A pesquisa é fundamentada sobre um quadro teórico que busca a interface entre abordagens enunciativas e discursivas e da Teoria da Literatura. A postura metodológica deriva da interdisciplinaridade do tema e da riqueza que essas linguagens podem trazer à análise do corpus.
Simone Silva de Paula
Título: Cidade fera: quem poderá olhar-te nos olhos?
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Beatriz Vieira de Resende
Páginas: 85
Resumo
O trabalho propõe um diálogo com os corpus literários Eles eram muitos cavalos (2013) e Domingos sem Deus (2011), escritos por Luiz Ruffato, intérprete da Literatura Brasileira do presente século. Nas narrativas encontramos cidades como Rodeiro, São Paulo, Rio de Janeiro e Cataguases. No entanto, não utilizei como estratégia a abordagem clássica da representação das cidades. E sim, pensar tais espaços enquanto ocupação ficcional multiperspectiva da memória. Uma vez que reconhecemos nestes espaços os múltiplos sentidos, adotei como hipótese norteadora da pesquisa, não apenas a representação de espaços locais, e sim, a imaginação dos vestígios da cidade fera: o consumo, a falta de esperança e o trágico pós-moderno.
A dissertação dialoga com os anônimos do romance Eles eram muitos cavalos e com os nomeados: Mirim, Guto, Carlos, Sandra, Dona Nica presentes em Domingos sem Deus. Estes, alcançados pelos pedaços das cidades, perdem-se de si mesmo e uns dos outros. Deparam-se com destinos diferentes dos sonhados nos primórdios de suas vidas. A visibilidade que tais personagens ganham na narrativa dialoga com a partilha do sensível, termo cunhado pelo filósofo Jacques Rancière.
Convido para o debate teórico outros pensadores como Beatriz Sarlo, Boris Groys, Massimo Canevacci, Michel Maffesoli, Nestor Canclini e Zigmunt Bauaman.
DISSERTAÇÕES DEFENDIDAS EM 2014
Total de dissertações defendidas: 14
Brena Suelen Siqueira Moura
Título: DA OBRA AO ENIGMA: O ARTISTA COMO OBRA EM TO THE LIGHTHOUSE
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Flavia Trocoli Xavier da Silva
Páginas: 102
Resumo
Esta dissertação versa sobre a representação do artista no romance moderno, no caso, em To the lighthouse de Virginia Woolf. Quando a pintora Lily Briscoe desenha a mancha no quadro, representando mãe e filho, ela consagra tanto na pintura, quanto na narrativa, a destituição do artista de suas funções tradicionais. O desvanecimento do narrador onisciente na narrativa implica uma série de novas questões para a representação moderna. Uma delas é a personagem enigmática Mrs. Ramsay que provoca vários empecilhos no processo criativo de Lily Briscoe por causa de seu discurso de tom melancólico e de sua narrativa de perda. Lily Briscoe, por sua vez, sublima e desenha rostos vazios em seu quadro. Temos o que chamamos de estética da destruição que seria um novo modo de fazer a Arte no período entre guerras. Considerando a leitura destrutiva provocada pela guerra, pretendemos considerar o saldo, positivo ou negativo, dessa fase para o romance moderno.
Cyntia Leandro da Cruz
Título: Três vezes Gregor Samsa: a câmera, o gesto e o mostro.
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Danielle dos Santos Corpas
Páginas: 119
Resumo
O objetivo da dissertação foi analisar quatro adaptações para meios audiovisuais (cinema, televisão e internet) de A metamorfose, de Franz Kafka: a primeira, alemã, do ano de 1975, por Jan Němec; a segunda, russa, do ano de 2002, por Valery Fokin; a terceira, espanhola, do ano de 1993, por Carlos Atanes; e a quarta, inglesa, do ano de 2012, por Chris Swanton. O ponto de partida para este estudo é o modo como elas diferem na forma como figuram Gregor Samsa, pois, em boa medida, é nele que se concentra a dimensão crítica da obra. Para dar conta desta análise foram considerados os dilemas críticos do espaço temporal e espacial da época na qual Kafka viveu, uma época de transformações radicais na percepção humana, pelo boom tecnológico do capitalismo industrial e a emergência das grandes metrópoles. Com sua sensibilidade crítica e experiência profissional e pessoal, ele não deixou passar despercebido em sua obra as problematizações de seu tempo e, assim como Georg Simmel, Walter Benjamin e Siegfried Kracauer, o avaliou a partir de uma concepção neurológica da modernidade. Por outro lado, também se levou em conta a crítica que percebe alguma afinidade da estética do escritor com o cinema, que com sua força impositiva não deixou mais espaço para contemplação nos moldes das artes plásticas e da fotografia. Resta saber se o cinema é capaz de traduzir para sua linguagem as nuances críticas pertinentes à obra de Kafka.
Daniel Christovão Balbi
Título: RASGA CORAÇÃO: O SENTIDO DE “REVOLUCIONÁRIO” POR SELEÇÃO METONÍMICA
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Eleonora Ziller Camenietzki
Páginas: 124
Resumo
Em Rasga Coração observa-se que a identidade e distinção características entre seus personagens potencializam-se na contracena, propositadamente, e conformam o desenho estrutural da peça, a partir do que se capta um direcionamento semântico que corresponde à consciência do trato do pavimento ideológico de sua obra. A análise desse desenho estrutural alcança indicar que dado do real é nela essencialmente formalizado. Assim, tendo como foco os deslocamentos do(s) constituinte(s) dramático “revolucionário” almeja-se, a partir desse recorte, verificar de que maneira a sua posição relativa em relação aos outros constituintes que o texto organiza e suas movimentações ao longo da peça se dão em função da necessidade de gerenciar a intriga, garantindo a orientação de uma linha interpretativa e o cumprimento de uma função dada que seja, pois, conduzir à revisão do significado de “revolucionário” e ao atestamento da justeza de determinadas convicções políticas e opções estéticas.
Dionisio David Márquez Arreaza
Título: IDEALISMO E REPÚBLICA: PERSONAGENS FRACASSADAS COMO CRÍTICA AO PROJETO DE NAÇÃO EM TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, DE LIMA BARRETO, E EN ESTE PAÍS…!, DE URBANEJA ACHELPOHL
Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo F. Coutinho
Páginas: 139
Resumo
Esta dissertação tem como eixo a crítica ao projeto nacional em dois romances latino- americanos: Triste fim de Policarpo Quaresma (1915), do brasileiro Lima Barreto, e En este país…! (1920), do venezuelano Urbaneja Achelpohl. A análise dos protagonistas nacionalistas e idealistas em ambos os romances revela as tensões que caracterizam o discurso de fundação nacional ou “retórica fundacional”, e particularmente a prática constitucional e/ou republicana, em ambos os países. Na medida em que as personagens interagem com a ideologia nacionalista, o trabalho agrícola e o combate armado, a idéia de nação oscila entre a inclusão retórica e a exclusão social, esta herdada da escravidão e do sistema latifundiário. A pesquisa se baseia na leitura da história política como “subtexto” da construção romanesca, seguindo o modelo interpretativo de Fredric Jameson. O teor comparatista da dissertação visa demonstrar como as produções literárias do Realismo latino- americano do início do século XX, dotados de uma função social, representam artisticamente as contradições do constitucionalismo, destacando as diferenças políticas de cada país e a heterogeneidade da idéia de “república” na América Latina.
Eduardo de Oliveira Magalhães
Título: A IMAGEM POÉTICA DE MURILO MENDES
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Vera Lúcia de Oliveira Lins
Páginas: 187
Resumo
Esta dissertação aborda a imagem na obra de Murilo Mendes (1901 – 1975) a partir de quatro perspectivas: a ironia, a música, o surrealismo e a crítica de artes plásticas. A intenção é sugerir como em cada um dos quatro âmbitos há uma marca singular muriliana que foge de todas as ortodoxias e como esses planos se amalgamam num projeto poético de alçada plural e universal. A ironia (especialmente do livro Poemas) é pensada para além das amarras modernistas, sob forte carga polifônica, e numa tensão dialética não hegeliana. Quanto ao surrealismo “à brasileira” (com enfoque em O visionário), como o próprio poeta o definiu, é visto como um projeto ímpar da inteligência e da sensibilidade muriliana, em que arte e vida não se dissociam. A música (partindo de Formação de discoteca), tão pouco estudada pela crítica, traz, sobretudo, o dodecafonismo de Schoenberg, as inovações de Debussy, de Stravinsky, o diálogo do jazz com a tradição e a grande paixão musical de Murilo, o gênio Mozart. A intenção é pensar como o apuro musical do poeta se apresenta nos seus versos e como ele parte de uma poética mais “derramada” para chegar à fase dos versos “enxutos”. Por fim, a crítica de artes plásticas (sobretudo os livros Retratos-Relâmpago e A invenção do finito), numa escrita poética, ensaística, faz se imbricarem a ironia, o surrealismo e música, formando uma crítica que não sentencia verdades sobre as obras, mas que dialoga com elas por via da imagem.
Gabrielle Paulanti de Melo Teixeira
Título: A memória formalizada nos narradores de voz feminina em Bracher e Hatoum
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Eleonora Ziller Camenietzki
Páginas: 87
Resumo
Essa dissertação debruça-se sobre a Memória recriada esteticamente através de narrativas memorialísticas em âmbito ficcional. A recriação/invenção do processo narrativo autobiográfico faz emergir as questões de gênero como delineadoras da forma literária, não como eleição, recorte ou aspecto, mas como fundamento da figuração da voz nos narradores femininos. Os romances Azul e Dura, de Beatriz Bracher, e Relato de um certo oriente, de Milton Hatoum, apresentam narradoras que reconstroem suas trajetórias por meio de seus relatos, sempre marginais, através de cartas e diários. Evidencia-se a existência das memórias submersas, que não figuram no mesmo nível do discurso oficial, mas permanecem alijadas e resistentes, à espera do momento de aflorar à superfície. Nessas narrativas, os relatos apresentam-se através de uma linguagem cindida, como representação das tensões entre o desejo, a necessidade (incumbência) do narrar e a interdição imposta pela violência simbólica que é marco dos dois romances.
Palavras chave: Literatura brasileira, Memória, voz feminina.
Abstract
This dissertation dwells over the aesthetically recreated memory through memorialistic narrative in fictional context. The recriation/invention of the autobiographic narrative process makes the questions of genre emerge as markers of the literary form, not as an election, scrap or aspect, but as a fundament in the figuration of the voice in the female narrators. The novels “Azul e Dura” from Beatriz Bracher and “Relatos de um certo oriente” from Milton Hatoum present narrators that rebuild their trajectory through their tales, always marginals, through letters and journeys. It is evidenced the existence of the submerged memories, that do not list in the same level of the official speech, but remain outside and resistent, waiting for the moment to bloom to the surface. In these narratives, the reports present themselves through a divided language, as a representation of the tensions between the desire, the need (the duty) of narrating and the interdiction imposed by the simbolic violence that is a trade in both novels.
Jonathan Gomes Henrique
Título: A UNIDADE POÉTICA DE RADUAN NASSAR
Orientador(a): Prof. Dr. EDUARDO MATTOS PORTELLA
Páginas: 179
Resumo
Raduan Nassar nos intriga de vários modos: por já ter abandonado a escrita quando publicou seu primeiro livro; por comparar a criação literária a uma criação de galinha; por desenvolver suas narrativas no esteio de suas memórias e leituras; por produzir narradores protagonistas que comungam uma certa visão de mundo, a saber: afastando-se das noções de humanidade em progresso e de homem moderno; guardando-se atrás de silêncios e dissimulações; sendo dados a um princípio contemplativo da natureza e da vida; defendendo duramente suas reservas e sua postura; acusando o fracasso e a inutilidade da comunicação; invocando o corpo como base de experiências e de formação de valor. A presente dissertação propõe uma abordagem da produção de Raduan Nassar tentando dar a esses múltiplos traços a unidade de uma ação singular de onde se extrairiam e se produziriam ulteriormente: uma unidade poética.
Karla Louise de Almeida Petel
Título: NARRAR O INENARRÁVEL? TENTATIVAS DE REPRESENTAÇÃO DA SHOÁ, EM VER: AMOR, DE DAVID GROSSMAN
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Martha Alkimin de Araújo Vieira
Páginas: 149
Resumo
A presente dissertação objetiva analisar o romance Ver: Amor, do autor israelense David Grossman, levando em consideração principalmente sua singularidade ao tratar de um tema tão complexo como o Holocausto. Como judeu já nascido no recém-formado Estado de Israel, o escritor transmite, através de sua literatura, o trauma e o luto que permaneceram como cicatriz do povo judeu até hoje, decorrente de sua quase dizimação no início do século passado. Através de realismo, fantasia, ilusão e texto enciclopédico, a obra empreende diversas tentativas de representação da catástrofe que se abateu sobre o judaísmo europeu e manchou toda a humanidade. Entretanto, ao passo que Ver: Amor se dedica a tentar expressar até aonde pode chegar a barbárie humana, também está inscrito, de antemão, sob uma espécie de “estética do fracasso”, por reconhecer que a linguagem, assim como é pletórica, é igualmente insuficiente para realizar tal tarefa. Além disso, sua publicação, em 1986, reforça que a manutenção da memória da Shoá está saindo cada vez mais da alçada dos textos de teor testemunhal para figurar entre as narrativas de ficção, uma vez que os sobreviventes da Segunda Guerra Mundial são bem poucos atualmente. Ver: Amor é um texto literário marcado por seu caráter fragmentário e aporético, características emblemáticas do indivíduo e do cenário da chamada pós- modernidade, integrantes de uma realidade de violência e horror altamente banalizados e produtora de profunda apatia entre os sujeitos.
Leonardo Augusto Bora
Título: A Antropofagia de Rosa Magalhães
Orientador(a): Prof. Dr. Frederico Augusto Liberalli de Góes
Páginas: 336
Resumo
A dissertação investiga os diferentes discursos e símbolos observáveis na fragmentada narrativa de enredo desenvolvida pela carnavalesca Rosa Magalhães para o desfile da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, no carnaval de 2002, intitulado Goitacazes… Tupi or not Tupi, in a South American Way!. O tema e fio condutor do enredo, a antropofagia (física e cultural), une os conflitantes momentos de uma alegoria da brasilidade: dos relatos dos primeiros cronistas que aportaram em nosso país parte-se para o romantismo indianista, em conformidade com os ideais de unificação nacional do Império, destacando-se o romance O Guarani, de José de Alencar; na sequência, o movimento modernista de 1922 e o seu desdobramento no Manifesto Antropófago, redigido por Oswald de Andrade e ilustrado por Tarsila do Amaral, em 1928, roubam a cena, propondo outra configuração da identidade nacional e da temática indígena (menos arraigada à nobreza e a um modelo de civilidade e honradez e mais preocupada com a crítica social – o anarquista canibal em oposição ao índio postiço ou de tocheiro do período romântico); finalmente, o enredo aborda o neoantropofagismo da Tropicália e o universo simbólico que enreda Carmen Miranda, considerada precursora da antropofagia cultural e musa de um determinado Brasil, marcado pela alegria, pelo exotismo e pela cafonice, sob o manto da folia momesca. Mas o enredo não se esgota nessa sequência de retalhos temáticos: patrocinado pela cidade de Campos dos Goytacazes, tornou-se um símbolo de o quanto a relação entre artistas e patrocinadores pode ser conflituosa; além disso, se observado enquanto peça do conjunto de narrativas desenvolvidas no período de 1992 a 2002, a sinopse e o desfile se mostram representativos de um estilo (sintético e autofágico), inseridos em uma tradição, embora não livres da experimentação radical e de momentos de negação do anteriormente defendido – uma teia complexa, portanto. A figura do índio, que aparece oito vezes num período de onze anos, é reprocessada em 2002, num exercício de plasticidade; o culto à miscigenação e ao carnaval brasileiro enquanto explosão de nacionalidade também é uma recorrência narrativa, opção temática em conformidade com um histórico de enredos da Imperatriz Leopoldinense – o que serve para se pensar os limites da autoria. Mais comprometido com as perguntas que com as respostas, exercitando o olhar dialético de que fala Didi-Huberman, o estudo mostra que as narrativas carnavalescas das escolas de samba podem gerar centelhas reflexivas de grande poder incandescente; os volteios temáticos de Rosa Magalhães são convites sucessivos a se pensar o problemático conceito de identidade nacional e o entre-lugar latino-americano.
Mayara Alexandre Costa
Título: Terra em trânsito: narrativas contemporâneas dos sertões nordestinos
Orientador(a): Profa. Dra. Matha Alkimin de Araújo Vieira
Páginas: 150
Resumo
Este trabalho investiga as imagens do sertão nordestino produzidas por três narrativas contemporâneas: Galileia (2008), romance de Ronaldo Correia de Brito, Deserto Feliz (2007), filme de Paulo Caldas e O céu de Suely (2006), filme de Karin Ainouz. Será observado de que maneira as imagens das referidas narrativas se relacionam com o acervo visual e discursivo produzido ao longo do século XX sobre esse território. O intuito é apontar como as narrativas que voltam ao sertão nordestino, no início do século XXI, redimensionam as questões que o definiram. Para tanto, será discutido o modo como as imagens e temas que caracterizaram essa territorialidade como dotada de uma identidade fixa, um espaço natural, essencial e doador de uma identidade originária, reaparecem nessas obras, entrelaçadas a outros discursos que possibilitam sua ressignificação. As obras aqui analisadas iluminam outras tramas do sertão nordestino, enfatizando os variados trânsitos que o atravessam nas últimas décadas.
Rafael Delgado Gomes Ottati
Título: PANAMÉRICA, DE JOSÉ AGRIPPINO DE PAULA, E A POÉTICA DA ENTROPIA
Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo de Faria Coutinho
Páginas: 207
Resumo
A presente dissertação tem por objetivo analisar o romance PanAmérica, de José Agrippino de Paula, em contato constante com o pensamento filosófico, político, estético e ideológico da época em que foi escrito. Sua publicação em 1967 é emblemática no tocante à guinada de pensamento rotulada anos depois de pós-modernidade. A década de 1960 mostrou-se igualmente conflituosa e contraditória, carregando em seu bojo os paradoxos da modernidade, sintetizados em diversas dicotomias que a arte pós-modernista aceitou como parte construtiva da identidade fragmentária, plural e provisória do sujeito. As dicotomias paradoxais modernas, dentre as quais são citadas a Razão/Emoção, a realidade/ficção, a história/literatura, o Sagrado/Profano e o Erudito/Popular, perpassam a tessitura ficcional de PanAmérica, sendo constantemente expostas e problematizadas. O texto fictício analisado, uma hibridização dos gêneros literários tradicionais “romance” e “epopeia”, atravessa as mais variadas questões, esfacelando os contornos que separam os conceitos herdados da racionalização Iluminista. Os indivíduos heroicos da epopeia clássica são, aqui, encarnações dos mitos do capitalismo em sua fase tardia: estrelas da Indústria Cultural, que questionam, entre outras coisas, a noção mesma de celebridade. Como tal, esses sujeitos, construídos em relação intrínseca, ambivalente e indissociável com o público-consumidor hodierno, evidenciam a inconstância, a fragmentariedade e a liquidez dos relacionamentos humanos nos tempos atuais. A entropia ficcional de José Agrippino de Paula, dessa maneira, envolve, além dos heróis míticos, a narrativa historiográfica, o tempo, o espaço e, mesmo, o conceito de unidade em sua obra. Ela se volta também aos anseios, às vontades e às constituições da massa plural que habita todo o vasto continente americano.
Ricardo de Souza Cruz
Título: A morte como forma no romance clariceano
Orientador(a): Prof. Dr. Ronaldo Pereira Lima Lins
Páginas: 151
Resumo
Clarice Lispector pode ser considerada como um dos principais escritores do século XX a utilizar a técnica de fluxo da consciência em sua obra. Tratando, portanto, de uma narrativa que apresenta tanto em seu conteúdo quanto em sua forma a intensa e difícil presença da morte. Esta aparece como um encontro na escuridão de dois elementos: o mal e o amor. Para chegarmos à morte, é preciso entender de que modo essa união ocorre, revelando assim o sentido da vida do homem moderno. A escrita de Clarice que preferimos estudar é sobretudo a que surge na forma de romance. A trama romanesca da autora mostra o quanto de imoral pode haver em tal narrativa, testemunhando a evidente intenção de revelar que sujeito está escondido por detrás das proibições inventadas pela cultura.
Thatiane da Silva Azevedo
Título: Biografia, Escrita e Poeticidade: Conformidade e Ruptura em Pedro Abelardo e Cristina de Pizan
Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo de Faria Coutinho
Páginas: 76
Resumo
A partir de uma reflexão sobre os papeis dos intelectuais da Idade Média, dois se levantaram devido à sua capacidade de romper e de se conformar. Esse aparente paradoxo tornou possível uma investigação mais profunda da obra História das Minhas Calamidades de Pedro Abelardo e da obra O Espelho de Cristina de Cristina de Pizan. O primeiro viveu no século XII e participou do renascimento urbano, comercial e intelectual. O segundo viveu no século XIV e participou dos embates intelectuais e lutou contra a misoginia. Ao comparar os seus contextos históricos e as suas bases intelectuais, procuramos proporcionar ao leitor as mudanças que ocorreram nesses períodos e como esse professor de filosofia e essa importante escritora medieval participaram ativamente para que essas transformações começassem. No entanto, o destaque a eles não se deu apenas por terem sido intelectuais, mas pelo confronto de seus posicionamentos. Enquanto o primeiro produziu seus tratados de dialética vivendo em abadias e monastérios, negando-se a viver seu eminente amor com Heloisa e enfrentado corajosamente os importantes clérigos de seu período, a segunda produziu suas obras e lutou incansavelmente no período em que viveu na corte, até extingui-los, quando em um convento.
Victor Doblas Heringer
Título: Enrique Vila-Matas: A ironia e a reinvenção da subjetividade
Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Beatriz Resende
Páginas: 115
Resumo
A obra do autor catalão Enrique Vila-Matas se presta, à primeira vista, a inúmeras considerações teóricas, visto que seus livros (e não raro os próprios narradores e personagens) tratam abertamente de questões da teoria da literatura (a ironia, o desaparecimento do autor, o duplo, a autoficção etc.). A partir de algumas dessas questões, explicitadas no romance Paris não tem fim e em outros textos, este trabalho tem por objetivo investigar o papel da ironia na reinvenção do conceito de sujeito e na subjetividade, que aparentemente retornam ao campo de visão do pensamento contemporâneo.
DISSERTAÇÕES DEFENDIDAS EM 2013
Total de dissertações defendidas: 06
André Luis Mourão de Uzêda
Orientador(a): Prof. Dr. Frederico Augusto Liberalli de Góes
Páginas: 128
Resumo
A pesquisa desta dissertação de mestrado apresenta um estudo sobre crônicas de carnaval publicadas entre o período de 1914 a 1924 no Jornal do Brasil. Com o intuito maior de problematizar o estudo da crônica como uma modalidade discursiva literária, esta dissertação buscou interpretar as crônicas de carnaval a partir da leitura subjetiva que os cronistas carnavalescos
apresentam da realidade histórica de seu tempo incorporada para dentro de seus textos. Caracteriza estas crônicas uma peculiar visão de mundo, a que denominamos de melanco-folia. Grandes
entusiastas da alegria e da folia, os cronistas carnavalescos paradoxalmente apresentam uma visão
melancólica e saudosista para as transformações sofridas nas manifestações de caráter popular no carnaval carioca. O ano de 1914, fim da chamada “Belle Époque tropical”, com o início da Primeira
Guerra Mundial, demarca o declínio da visão de mundo positivista, em que se acreditava na evolução constante da civilização mundial rumo a um “progresso”. O crescente descrédito nesta filosofia durante os dez anos que se seguem adiante rompe com toda uma ideologia promovida pela imprensa carnavalesca desde a segunda metade do século XIX, momento em que se inicia uma campanha de “civilização” e “modernização” do carnaval carioca, visto como “bárbaro” e “incivilizado”, por meio da importação de hábitos e manifestações culturais a um gosto europeu.
Nesta paradoxal visão de mundo “melanco-fólica”, estes cronistas revelam uma crise de identidade: percebem haver neste carnaval “civilizado” uma “farsa”, no qual não se pode viver toda a potencialidade festiva promovida pelo espírito folião autêntico – potencialidade esta agora
percebida justamente nas antigas expressões populares do carnaval carioca, para cujo fim contribuiu a própria imprensa carnavalesca. Reflete assim esta crise uma visão de mundo propriamente
carnavalesca, no sentido posto por Mikhail Bakhtin, essencialmente dúbia e paradoxal.
Palavras-chave: Carnaval. Crônica. Jornal do Brasil. Literatura Brasileira. Rio de Janeiro.
Abstract
La recherche de cette dissertation de maîtrise présente une étude sur les chroniques de carnaval
publiées entre les années 1914 et 1924 dans le Jornal do Brasil. Avec pour objectif principal de
problématiser l’étude de la chronique comme une modalité discoursive littéraire, cette dissertation a
cherché à interpréter les chroniques de carnaval à partir de la lecture subjective que les chroniqueurs
carnavalesques présentent de la réalité historique de leur temps, intégrée dans leurs textes. Une
vision du monde particulière, celle que nous avons dénommée de mélanco-folie, caractérise ces
chroniques. Grands amateurs de gaieté et de réjouissances, les chroniqueurs carnavalesques
présentent paradoxalement une vision mélancolique et nostalgique envers les transformations
survenues dans les manifestations de caractère populaire du carnaval de Rio. L’année de 1914, fin
de ce que l’on a appelée “Belle Époque tropicale”, avec le début de la Première Guerre Mondiale,
marque le déclin de la vision du monde positiviste, au sein duquel on croyait en l’évolution
constante de la civilisation mondiale vers un “progrès”. Le discrédit croissant en cette philosophie
durant les dix années qui suivent rompt avec toute une idéologie promue par la presse
carnavalesque depuis la seconde moitié du dix-neuvième siècle, moment où débute une campagne
de “civilisation” et “modernisation” du carnaval de Rio, vu comme “barbare” et “sauvage”, grâce à
l’importation d’habitudes et de manifestations culturelles de goût européen. Dans cette vision
paradoxale du monde “mélancolico-folie”, ces chroniqueurs révèlent une crise d’identité: ils
perçoivent qu’il y a dans ce carnaval “civilisé” une “farce”, un carnaval dans lequel on ne peut vivre
toute la potentialité festive promue par l’esprit fôlatreur authentique – potentialité désormais perçue
à juste titre dans les anciennes expressions populaires du carnaval de Rio et à laquelle la propre
presse carnavalesque a contribué. Cette crise reflète ainsi une vision du monde proprement
carnavalesque, dans le sens donné par Mikhail Bakhtin, essentiellement ambigu et paradoxal.
Mots-clés: Carnaval. Chronique. Jornal do Brasil. Littérature brésilienne. Rio de Janeiro.
Everardo Borges Cantarino
Título: Razões ocultas: representações do conservadorismo na composição vanguardista das Memórias sentimentais de João Miramar
Orientador(a): Prof. Dr. André Luiz de Lima Bueno
Páginas: 154
Resumo
Estudo do romance Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade, em que são analisados aspectos estéticos e ideológicos, postos em movimento e relacionados. A renovação da linguagem literária apresentada nesse romance rompe com as fórmulas acadêmicas, para tratar de uma realidade urbana em transformação no início do século XX, em São Paulo, em que convivem os avanços da modernidade e a mentalidade conservadora de um passado rural oligárquico de raízes escravistas. João Miramar é o autor ficcional do livro, o narrador e o protagonista que encarna essa dicotomia, já que a composição de seu texto é vanguardista, mas como integrante da classe de cafeicultores, se insere no conservadorismo dessa elite que na cidade se instala, na formação da burguesia urbana no Brasil. A análise das técnicas empregadas pelo escritor ficcional João Miramar na escrita de suas Memórias foi a estratégia que possibilitou uma melhor compreensão do enredo. Cabe à recepção do texto realizar dois níveis de leitura que são complementares: uma “vertical”, em que cada episódio contém uma experiência completa relembrada por Miramar, e uma “horizontal”, na qual a recepção faz uma montagem juntando episódios a partir de estruturas temáticas ou linguísticas. Dessa forma é possível perceber níveis de consciência e atitudes críticas de Miramar ao longo do romance. Assim, através dos elementos do texto, esse estudo busca compreender a crítica à sociedade brasileira esboçada na obra.
Henrique Campos Monnerat
Título: A politização da arte e a estetização da política por que não? – O tropicalismo e o seu legado
Orientador(a): Prof. Dr. Ronaldo Lima Lins
Páginas: 257
Resumo
Esta dissertação debruça-se sobre o escólio da crítica da tropicália a fim de demonstrar como essa produção teórica dirige-se ao tempo presente como um aparato no qual a relação entre arte e política vem sendo paulatinamente negada. A análise, feita a partir das continuidades existentes dos anos 1960 até os dias atuais, propõe-se a inserir o legado de críticos e artistas relacionados ao tropicalismo dentro de uma reflexão que evidencie suas contradições no cenário político e econômico nas duas primeiras décadas deste século. Em um contexto marcado pelo mito do progresso (acentuado no Brasil pela proximidade dos megaeventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Rio de Janeiro), torna-se necessário um mapeamento teórico da manifestação tropicalista para evidenciar as contradições e as modas – como, por exemplo, a moda Walter Benjamin – que operam sua canonização e consagração, conferindo à tropicália uma espécie de aura de lucidez dos novos tempos. Este texto demonstra ainda a forma como, na trilha da lógica política da terceira via (orientada pelo aprofundamento da inexorabilidade do capital e pela perseguição aos movimentos sociais), o tropicalismo pode vir a se tornar uma referência para uma visão de cultura que, através da defesa de um discurso consensual de diversidade aliada à universalidade, procura dissociar a esfera estética da política e invalidar assim qualquer politização ou opinião que questione a ordem estabelecida.
Luciana Povoa de Almeida Silva
Título: Almas que vagueiam na estrada fria: alegorias da passagem em Pessach: a travessia
Orientador(a): Prof. Dr. João Camillo Penna
Páginas: 104
Resumo
A presente dissertação tem por objetivo investigar como o romance intitulado Pessach: a travessia, de Carlos Heitor Cony, pode ser entendida como uma alegoria da passagem em termos de transformação da individualidade de seu protagonista Paulo Simões – um judeu assimilado, caracterizado pelo esvaziamento de ideais e apatia política. Para tanto, buscar-se-á auxílio teórico em Walter Benjamin no que tange à questão da alegoria; em Georg Lukács, para que seja possível compreender o locus do protagonista no romance moderno; em Søren Kierkegaard, para se pensar a constituição do “si próprio” em seu processo reflexivo de individuação, e em Giorgio Agamben, com o objetivo de se realizar uma exegese no que diz respeito à constituição originária judaica do personagem Joaquim Goldberg Simon e a sua dupla condição de supertestis e terstis no decorrer do seu desenvolvimento individual. Igualmente, será abordada, de modo sucinto, a questão do “deslocamento” em sua perspectiva teórica elaborada por Elena Palmero González, James Clifford e Stuart Hall, para que seja possível compreender como é realizada a constituição deslocada do protagonista do romance a ser estudado em vias de recuperação de sua autorreflexividade.
Mônica Machado
Título: Alberto Mussa e a devoração da ordem
Orientador(a): Prof. Dr. Ronaldo Lima Lins
Páginas: 184
Resumo
A crítica dos dois contos de Alberto Mussa, “A primeira comunhão de Afonso Ribeiro” (in Elegbara, 1999, p. 7-24 e 2005, p. 13-36) e “A teoria aimoré” (in O movimento pendular, 2006, p. 161- 172), nesta dissertação, mantém em vista um sentido de devoração da ordem, do modo como essa devoração é subversiva e ao mesmo tempo criadora de uma ficção sobre fragmentos, conceitos e de uma articulação entre as instâncias do homem, da sociedade e do Estado. O argumento parte do reconhecimento de que o mundo como espaço histórico e físico continua em choque e ameaçado por catástrofes ambientais e fundamentalismos religiosos (como sintomas da desgraça) e de que o homem como ser social e máquina continua também a viver, embora esteja ameaçado por essa extinção do mundo, do ponto de vista ecológico, assim como pela extinção da história, da religião, das identidades e dos sentidos, do ponto de vista próprio ao humano. O grande problema é saber se de fato e de que modo a participação das negatividades afirmativas (proporcionadas pela devoração de uma ordem opressiva e hipócrita) interfere na compreensão desse pensamento mal conhecido como primitivo e selvagem, o das mitologias. Supondo que seja possível às privações tornarem-se características positivas, desde os canibais de Montaigne, da antropofagia oswaldiana, do perspectivismo ameríndio, da alegoria de Walter Benjamin, da prosopopeia de César Aira, dos conceitos de Deleuze, até o pensamento de Nietzsche e Lévi-Strauss, o pensamento que fundamenta essas narrativas pode também integrar a lista com seus muitos antecedentes, de homens desnecessarizados, não oprimidos nem subjugados pela natureza ou pela cultura.
Verônica de Araújo Costa
Título: Marina Tsvetáieva e a musicalidade do poema
Orientador(a): Prof. Dr. Eduardo Portella
Páginas: 195
Resumo
Pensar a musicalidade nos poemas de Marina Tsvetáieva é uma das possibilidades de interpretação da sua poética. Para tanto, os seus versos devem ressoar em nós no vigor deles mesmos e não como relatos vivências de uma poetisa que passou por grandes dificuldades durante o período da Rússia Soviética. Em constante diálogo com o seu tempo e com as questões inerentes à vida, Tsvetáieva mostra, em seus poemas, a urgência de repensarmos o sentido que damos à nossa existência através de um mosaico de imagens rítmico-plásticas, convidando-nos a pensar o mistério que somos. Sem considerar apenas questões de cunho político e social, que tanto caracterizaram os escritores soviéticos, esta dissertação é um convite para se pensar a essência da poesia em Marina Tsvetáieva a partir de uma coletânea de poemas traduzidos diretamente do idioma do russo e sua ressonância com a musicalidade.